sábado, 16 de julho de 2011

Maluco Beleza


Não tem como não chamar a atenção. Até os mais distraídos e desavisados levam um susto quando estão dirigindo em plena BR e “dão de cara” com um triciclo diferente de tudo que já se viu neste mundo: cheio de penduricalhos, cartazes, faixas e de coisas inusitadas. A parafernália aguçou a curiosidade da jornalista disposta até a mudar de rumo, em busca de uma boa história. Coincidência ou não, o motoqueiro seguiu o mesmo destino. Seu proprietário, conhecido como “Padre”, por ser da Pastoral do Motociclismo, Evadir Ferreira de Lima, 42 anos, foi de Barracão, Paraná, para a ilha de São Francisco do Sul, Norte de SC.
Segundo ele, a pastoral prega a paz, a amizade nos encontros de motociclistas e também trabalha com artesanato. “Juntei o útil ao agradável”, diz. Casado, tem dois filhos e mudou-se para a Prainha há um mês. “Vou tirar umas férias e comprei um barzinho prá motoqueiros e adeptos, no Couston Bar, depois da Lanchonete Prainha. Moro ali e estou convidando todos para irem lá”, acrescenta.
A idéia de inovar o seu triciclo começou em Dois Vizinhos, Paraná, numa corrida de MotoCross, quando seus colegas lhe deram uma cabeça de gado e ele colocou na frente do veículo. “O cara da lanchonete de lá já me deu uma corda prá eu amarrar o boi. Quando cheguei em casa, outro me deu um balde prá eu dar água para o boi. Comecei pendurando estas três coisas no triciclo. Tudo iniciou assim e até agora não parou. Isso faz seis anos. O mais novo é aquele passarinho, que ganhei em São Bento no encontro de motoqueiros, de onde estou voltando.”
Comprou o triciclo pronto, da marca Volkswagen 1600, mas completamente limpo, sem um adesivo. O padre começa a falar em alguns dos “trastes”, que passaram a compor o veículo: “O ventilador de teto é prá fazer um vento. A Risoleta, boneca que está na frente da moto é a sua companheira de viagem. Acompanhada de um teclado de computador, ela navega na Internet, enquanto nós viajamos. É ela que programa a viagem.”
O “Padre” continua animado a descrição: “As três caveiras que estão em cima da moto são para tirar o mau olhado e contra a inveja, o olho grande. É prá chamar a atenção mesmo. O símbolo do motociclista é a caveira. O lagarto veio da sua fazenda. Ele estava comendo os ovos das minhas galinhas e eu o matei. O segundo teclado de computador é para o piloto. A cuia de chimarrão ganhei do patrão do CTG em Seara, numa feira. O binóculo é para sacanagem. Encho de graxa preta e dou prá tigrada olhar. A placa de táxi foi um presente de Indaial. O capacete com dois chifres foi ganho de um vizinho, mas os chifres não são meus. O cérebro de burro é uma calculadora.”
As placas ‘Eu sou uma anta e Leia do outro lado’ são censuradas até mesmo para a imprensa. Outra, liberada, manda ver o macaco dentro da caixa e tem um macaco mesmo, de carro.
E assim, o Padre para alguns e motoqueiro maluco para outros, vai levando a vida de uma forma só dele, que o faz feliz. Quantos têm a coragem suficiente para viverem a sua loucura em busca do que acreditam? A sua viagem rendeu uma boa história, provando que intuição de jornalista está sempre certa e é um exemplo de alguém que corre para realizar os seus sonhos: morar na praia, fazer artesanato, ter um bar para motoqueiros e pregar a paz.

Véra Regina Friederichs

Entrevista feita em 2004, na beira da Praia de Enseada, em São Francisco do Sul, escrita em 03/04/08, numa tarde nublada de quinta-feira, em São Leopoldo, RS.
Texto inédito


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