terça-feira, 31 de maio de 2011

A tela em branco

A tela em branco é para a jornalista/escritora um espaço que tem que ser preenchido custe o que custar. Muitas vezes, a busca de inspiração percorre chips da memória guardados a sete chaves e que sem querer são invadidos, trazendo recordações inesperadas. Algumas, bem vindas. Outras, melancólicas e capazes de transformar antigas emoções em lágrimas.
À medida que o texto vai se desenvolvendo sem eu conseguir definir um tema, a angústia e a ansiedade aumentam, a ponto de me causarem taquicardia e uma dor profunda na boca do estômago, frutos da adrenalina que toma conta de mim.
Esta é uma das mais duras missões do jornalista: escrever sem nada dizer; dourar a pílula ou entre os mais íntimos e brincalhões: “encher lingüiça mesmo”. Confesso que depois de meses, afastada do teclado deste computador, sinto saudade da época da máquina de escrever, quando tínhamos a oportunidade de misturar palavras com emoções, batendo rapidamente nas teclas e fazendo um barulho que era uma festa para os nossos tímpanos.
Quando as primeiras palavras tomavam forma e não gostávamos do que líamos, a reação era imediata: arrancávamos o papel da máquina e amassando-o com furor e indignação jogávamos a nossa tentativa frustrada no lixo. Tinha dias em que à medida que o tempo passava e aumentava a pressão do editor para entregarmos a matéria a tempo de não atrasar o fechamento do jornal, o lixo ia se enchendo cada vez mais.
E como uma lembrança puxa a outra, recordo da Turma do Pasquim, jornal alternativo que circulava na época da ditadura, que chegou a criar: “O Jornal do Cesto”. E já que estamos falando de lixo, e entramos no túnel do tempo, quando ainda não havia as preocupações que temos hoje com o ecologicamente correto, aquecimento global, CFC, derretimento das calotas polares,blá,blá,blá,blá,blá,blá e os eco chatos nem existiam, uma das revistas de circulação semanal da época mandou seus repórteres examinarem o lixo de personalidades e políticos, até então acima de qualquer suspeita, que deu muito pano prá manga. Bons tempos aqueles... Pensando melhor nem tão bons... O cartão corporativo ainda não tinha sido inventado, mas a safadeza já corria solta e com a imprensa amordaçada, muitas coisas não chegavam ao nosso conhecimento.
Se pensarmos melhor ainda, tudo continua como dantes na terra de Abrantes, com a diferença de que hoje sabemos do que está acontecendo, mas a safadeza e a falta de vergonha na cara continuam descaradamente.
E assim, eu encerro o meu primeiro texto nesta fase de retomada da minha vida, depois de um longo e tenebroso período em que fiquei fora do ar. Agradeço ao Luciano, amigo e terapeuta, por ter me obrigado a voltar a escrever, fazendo uma das coisas que mais me dá prazer: organizar o meu raciocínio e o meu pensamento, transformando-os em palavras, frases e parágrafos que façam sentido e que sejam agradáveis ao leitor.

Véra Regina Friederichs
 Desde 27 de março de 2008 estava tomando coragem para criar este blog. Finalmente aí está.