sábado, 7 de maio de 2022

Quando Deus criou as Mães

     Diz uma lenda que no dia em que Deus criou as mães,um anjo se acercou dele e lhe perguntou  o porquê de tanto zelo e carinho com aquela criação.
     Em quê, afinal de contas, ela era tão especial?
     O bondoso e paciente Pai de todos nós lhe explicou que aquela mulher teria o papel de mãe, pelo que merecia especial cuidado.
     Ela deveria ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até namoro terminado.
     Deveria ser dotada de mãos hábeis e ligeiras que agissem depressa, preparando o lanche do filho, enquanto mexessem nas panelas, para que o almoço não queimasse.
     Que tivesse noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma.
     Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada.
     Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança ao filho de passos vacilantes; mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido quase insignificante numa roupa especial para a festinha da escola.
     Por ser mãe, deveria ser dotada de muitos pares de olhos.
     Um par para ver através de portas fechadas, para aqueles momentos em que se perguntasse o que é que as crianças estavam tramando no quarto fechado.
     Outro par para ver o que não deveria, mas precisasse saber e naturalmente, olhos normais, para fitar uma criança com doçura e lhe dizer: " Eu te compreendo, Não tenhas medo. Eu te amo", mesmo sem dizer uma palavra.
     O modelo de mãe deveria ser dotado ainda da capacidade de convencer uma criança de nove anos a tomar banho, uma de cinco a escovar os dentes e dormir, quando estivesse na hora.
    Um modelo delicado com certeza, mas forte, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os filhos.
     De superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.
     Uma mulher com capacidade de pensar e fazer acordos com as mais diversas faixas de idade.
     Uma mulher com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor, mas ainda assim insisitir para que o filho parta em busca do que lhe constitua felicidade ou signifique o seu progresso maior.
     Uma mulher com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.
     Uma mulher de lábios ternos, que soubesse cantar canções de ninar para os bebês e tivesse sempre as palavras certas para o filho arrependido pelas tolices feitas.
     Lábios que soubessem falar de Deus, do Universo e do amor.
     Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.
     Uma mulher. 
     Uma mãe.


Retrato de Mãe

 Dom Ramon Angel Yara - Bispo de La Serena - Chile

Tradução: Guilherme de Almeida

     "Uma simples mulher existe que, pela imensidão do seu amor, tem um pouco de Deus e pela consistência de sua dedicação, tem muito de anjo.

     Que sendo moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas da juventude.

     Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida, e, quando sábia, assume a simplicidadade das crianças.

     Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrece-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos.

     Forte, entretanto, estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões.

     Viva, não lhe sabemos dar valor, porque à sua sombra todas as dores se apagam,e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo e dela receber um aperto de seus braços e uma palavra de seus lábios.

     Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas esta página, porque eu a vi passar no meu caminho.

     Quando crescerem seus filhos, leiam para eles este texto: eles lhe cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viajante em troca da inesquecível hospedagem recebida aqui, deixou para rodos o rerato da sua própria mãe...


Homenagem à minha mãe e a todas as mães do mundo.