quarta-feira, 13 de julho de 2011

De Dom Quixote a Khalil Gibran

Uma das maiores dificuldades dos pais e educadores é fazer com que nossas crianças e jovens leiam. A geração dos computadores e videogames não sabe o que está perdendo. Não há prazer que se iguale a uma boa leitura. Desde criança, este é um dos meus maiores vícios. Entre tantas viagens sem drogas ao mundo da literatura, muitas ainda me emocionam. Destas, escolhi duas das mais belas passagens da literatura universal, que tento transcrever com a esperança de que seduzam crianças e jovens para que eles resolvam entrar no mundo sem volta da literatura, que pode até ser acessado pela internet, se bem que para mim, o prazer só se completa ao sublinhar frases, rabiscar observações nos espaços laterais, superiores e inferiores das páginas.
Uma está na obra inesquecível de Miguel de Cervantes, o Dom Quixote de La Mancha e foi imortalizada também pelo cinema, música, teatro e artes plásticas.  Dom Quixote enfiado em velha armadura, montado em seu esquelético Rocinante, é levado a um calabouço, ao encontro de ladrões, onde deveria ser julgado. A muito custo e para evitar a arbitrariedade que ali se montava, exigiu fazer a sua autodefesa. Procedida a representação, transmitida a mensagem, ele ouve o tilintar do sino quando se levanta a porta do calabouço e por ela entra um raio de luz, que traduzia e espelhava toda a liberdade que existia em seu coração.
Ao perceber que estava livre, ele que tanto sonhara com aquele momento convocou a todos para que buscassem a sua liberdade e a realização dos seus sonhos, dizendo:
Sonhar mais um sonho impossível, vencer a batalha invencível, negar quando a regra é vender, pisar o inacessível chão, quebrar a incabível prisão, sofrer a tortura implacável, voar no limite do improvável e novamente pisar o inacessível chão. E não importa quantas batalhas tivermos que lutar e vencer por um pouco de paz. Porque amanhã, quando este solo, que tantas vezes beijamos for nosso leito e perdão, saberemos que valeu delirar e morrer de paixão. E mais cedo ou mais tarde, quando tiver fim a infinita aflição, o mundo verá brotar uma flor no inacessível chão.
Se eu quiser lhes dizer o nome da flor será fácil: é o amor. O inacessível chão, o coração dos homens. E o que é o amor?
Para tentar defini-lo, vamos buscar Khalil Gibran, em mais um dos grandes clássicos do século 20: “O Profeta” :
Quando o amor vos chamar, segui-o, apesar do seu caminho ser duro e íngreme. E quando suas asas vos envolverem, abraçai-o, apesar da espada escondida entre suas penas poder ferir-vos. E quando ele falar convosco, acreditai nele, apesar da sua voz poder esfacelar vossos sonhos como o vento norte arruína o jardim. Pois, mesmo quando o amor vos coroa, ele vos crucifica. Mesmo sendo para o vosso crescimento, ele também vos poda. O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada além de si mesmo. O amor não possui nem é possuído; pois o amor é suficiente ao amor. O amor não tem outro desejo além de satisfazer a si mesmo. Mas se vós amais e precisais ter desejos, que sejam estes os vossos desejos: derreter e ser como um riacho que corre e canta sua melodia para a noite, conhecer a dor do carinho demasiado, ser ferido pela vossa própria compreensão do amor, e sangrar por vossa própria vontade e com alegria. Acordar ao amanhecer com o coração leve e agradecer por mais um dia de amor; descansar ao meio dia e meditar sobre o êxtase do amor; voltar para casa ao entardecer com gratidão; e então dormir com uma prece ao bem amado em vosso coração e uma canção de louvor em vossos lábios.

Véra Regina Friederichs

Comentário I:

Oi, Vera, entrei no teu blog para ler os textos. Só não conseguimos postar um comentário pois é necessário ter um e-mail no Google, q eu não tenho. Por isso a mãe te espondeu por e-mail, como farei aqui.
Chamou-nos a atenção o texto sobre as palavras de Dom Quixote e Khalil Gibran. Muito lindo, profundo e verdadeiro. Infelizmente, a maioria dos jovens de hoje preferem o que vem tudo pronto e rápido (televisão) ao invés de investir em criatividade, que só se adquire pela leitura. Tb gosto muito de ler, adoro.
Estou lendo um romance, "A Jóia de Medina", q fala sobre a vida de uma das mulheres de Maomé; bem interessante, pela riqueza dos detalhes descritos a respeito da cultura árabe, não muito comum entre nós.
Continue divulgando e convocando todos a participarem do hábito da leitura. Muito importante isso.

bjs,

Ivelise Iara Machado (In Memorian)

Comentário II:

Oi, Vera, bom dia! Li o texto do Khalil Gibran no teu blog, achei lindo. Esse é o verdadeiro amor, descrito por ele. Esperamos que as nossas crianças e jovens de hoje realmente se encantem pela leitura, pois eleva a nossa alma e torna-nos seres melhores. Parabéns pela escolha do tema e pela preocupação com a formação dos futuros adultos.

Um abraço,

Maria Gouveia Machado IIn Memorian)

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