quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Errou de casa

          Morando em Joinville há dois meses, para trabalhar no Jornal A Notícia, um dos meus maiores problemas era enfrentar os finais de semana: pelo calor, pela chuva, pela solidão, por não saber onde ir e por ter que ficar em um quarto de hotel, onde estava hospedada, o Novo Hotel Joinville, que ficava na Rua Abdon Batista, ao lado do antigo prédio do Jornal A Notícia. 

     Um dos meus poucos amigos era o Sérgio Heidrich, que conhecia do RS, e que encontrei em Joinville. Felizmente ele era amigo do Wagner Baggio e me convidou pra almoçar no apartamento do Wagner, naquele domingo.

     Aceitei e fui muito bem recebida. Chegamos lá pelas 10 horas. Feitas as apresentações, fiquei na sala, assistindo televisão.

     A Maíres, mulher do Wagner e uma amiga preparavam o almoço na cozinha. O Wagner estava trabalhando.

     A hora do almoço estava chegando.

     Quanto mais passava o tempo, mais aumentava a minha ansiedade.

     Finalmente ele chegou.

     Abriu a porta, mas antes de entrar, me olhou surpreso, levou um susto, porque não me conhecia e disse: ¨" desculpa, errei de casa. Fechou a porta e saiu.

     Pra mim, tudo bem, eu não o conhecia.

     Mas pra ele, não.

     Fechou a porta, parou e pensou: "Tem alguma coisa errada. Esta casa é minha, sim".

     Voltou e disse:   

     Esta casa é minha. O que você está fazendo aqui?

    Eu respondi: 

    - Muito prazer. Eu sou a Vera, jornalista gaúcha e amiga do Sérgio. Vim pra Joinville trabalhar no Jornal A Notícia.

   Confusão resolvida, começou a sessão comédia, com muitas risadas, que duraram a tarde inteira e renderam ainda por um bom tempo.

     E para minha felicidade, a amizade com o Wagner e a sua família foi e é motivo de muitas alegrias, viagens para a praia e participação em bailes e eventos. Tudo isso nos ajudou a superar momentos difíceis, que surgiram ao longo do tempo.

     Com a família a uma distância de 700 quilômetros em São Leopoldo, RS, nunca mais enfrentei os finais de semana sozinha.

     Gratidão ao Wagner, à Maíres, à Janaína, ao Daniel e ao Gabriel. Gratidão por este presente, que é a nossa amizade e que continua viva por 43 anos.

 


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

De  Dom Quixote a Khalil Gibran


Homenagem In Memorian a Maria Gouveia Machado e a Ivelise Iara Machado





Legenda: Rosana, Vera e Maria Gouveia Machado na comemoração do 60º aniversário da Vera em Joiville, no dia 28 de junho de 2011. 

                                              
                                                              


Legenda: Ivelise em uma da Festa das Flores na Expoville, em Joinville

Texto postado neste blog em 13 de julho  de 2011

          Uma das maiores dificuldades dos pais e educadores é fazer com que  nossas crianças e jovens leiam. A geração dos computadores e videogames não sabe o que está perdendo. Não há prazer que se iguale a uma boa leitura. Desde criança, este é um dos meus maiores vícios. Entre tantas viagens sem drogas ao mundo da literatura, muitas ainda me emocionam. Destas, escolhi duas das mais belas passagens da literatura universal, que tento transvcrever com a esperança de que seduzam as crianças e jovens, para que eles resolvam entrar no mundo sem volta da literatura, que até pode ser acessado pela Internet, se bem que para mim, o prazer só se completa ao folhear o livro, sublinhar frases, rabiscar significados e observações  nos espaços laterais, superiores e inferiores das páginas.
     Uma está na obra inesquecível de Miguel de Cervantes, o Dom Quixote de La Mancha e foi imortalizada também pelo cinema, música, teatro e artes plásticas. Dom Quixote enfiado em velha armadura, montado em seu esquelético Rocinante, é levado a um calabouço, ao encontro de ladrões, onde deveria ser julgado. A muito custo e para evitar a arbitrariede que ali se montava, exigiu fazer a sua autodefesa. Procedida a representação,transmitida a mensagem, ele ouve o tilintar do sino, quando se levanta a porta do calabouço e por ela entra um raio de luz , que traduzia e espelhava toda a liberdade que existia em seu coração.
     Ao perceber que estava livre, ele que tanto sonhara com aquele momento, convocou a todos para que buscassem a sua liberdade e a realização dos seus sonhos, dizendo:
     "Sonhar mais um sonho impossível, vencer a batalha invencível, negar quando a regra é vender,  pisar o inacessível chão, quebrar a incabível prisão, sofrer a tortura implacável, voar no limite improvável, e novamente pisar o inacessível chão. E não importa quantas batalhas tivermos que lutar e vencer por um pouco de paz. Porque amanhã, quando este solo, que tantas vezes beijamos for nosso leito e perdão, saberemos que valeu delirar e morrer de paixão. E mais cedo ou mais tarde, quando tiver fim a infinita aflição,o mundo verá brotar uma flor no inacessível chão.
     Se eu quiser lhes dizer o nome da flor será fácil: é o amor. O inacessível chão, o coração dos homens. E o que é o amor?"
      Para tentar defini-lo, vamos buscar Khalil Gibran, em um dos maiores clássicos do século 20 "O Profeta":
         "Quando o amor vos chamar, segui-o, apesar do seu caminho ser duro e íngreme. E quando suas asas vos envolverem, abraçai-o, apesar da espada escondida entre suas penas poder ferir-vos. E quando ele falar convosco, acreditai nele, apesar da sua voz esfacelar vossos sonhos  como o vento norte arruina o jardim.  Pois, mesmo quando o amor vos coroa, ele vos crucifica. Mesmo sendo para o vosso crescimento, ele também vos poda. O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada além de si mesmo. O amor não possui nem é possuído: pois o amor é suficiente ao amor. O amor não tem outro desejo além de satisfazer a si mesmo. Mas se vós amais e precisais ter desejos, que sejam estes os vossos desejos: dereter e sercomo um riacho que corre e canta a sua melodia para a noite, conhecer a dor do carinho demasiado, ser ferido pela vossa própria compereensão do amor, e sangrar por vossa própria vontade e com alegria. Acordar ao amanhecer com o coração leve e agradecer por mais um dia de amor, descansar ao meio dia e meditar sobre o êxtase do amor; voltar para casa ao entardecer com gratidão; e então dormir com uma prece ao bem amado em vosso coração e uma canção de louvor em vossos lábios.

Vera Regina Friederichs

     Comentário I:

     Oi, Vera, entrei no teu blog para ler os textos. Chamou-nos a atenção o texto sobre as palavras de D. Quixote e Khalil Gibran. Muito lindo, profundo e verdadeiro. Infelizmente, a maioria dos jovens de hoje prefere tudo o que já vem pronto e rápido (televisão), ao invés de investir no conhecimento e criatividade, que só se adquire pela leitura. Também gosto muito de ler.  Adoro.
     Estou lendo um romance, "A Joia de Medina", que fala sobre a vida de uma das mulheres de Maomé, bem interessante, pela riqueza dos detalhes descrtos a respeito da cultura árabe, não muito comum entre nós.
     Continue divulgando e convocando todos a participarem do hábito da leitura.
     Muito importante isso.
     Beijos

     Ivelise Iara Machado

     Comentário II:

     Oi, Vera, bom dia! Li o texto do Khalil Gibran no teu blog, achei lindo. Esse é o verdadeiro amor, descrito por ele. Esperamos que as nossas crianças e jovens de hoje realmente  se encntem pela leitura, pois eleva a nossa alma e torna-nos seres melhores. 
     Parabéns pela escolha do tema e pela preocupação com a formação dos futuros adultos.
     Um abraço,

     Maria Gouveia Machado