terça-feira, 19 de julho de 2011

Reacionários e Vanguardeiros

O velho hábito de dividir as pessoas politicamente entre esquerda e direita está ultrapassado. A classificação mais correta, além de útil em termos de análise da realidade, deve ser: reacionários ou vanguardeiros. Enquanto um reage às mudanças, tolhe iniciativas, bloqueia avanços, o outro as acolhe, incentiva, promove. O que difere um do outro é o medo do novo.
A história comprova que mudanças são sempre difíceis, pois o homem, por instinto de preservação, prefere o conforto daquilo que é conhecido ao desconforto representado pelo desconhecido. Mas, ao fim e ao cabo, elas acontecem, inexoravelmente. Pode-se reagir e tentar diminuir sua velocidade ou compreendê-las e dar um passo à frente.
O novo incomoda sempre, seja nas artes, na política, na economia, na ciência ou nos costumes.
No fim do século XIX, houve manifestações contra a pasteurização, que livraria o leite de micróbios e bactérias. Nas décadas de 1940 e 1950, consumidores norte-americanos protestaram contra a fluoretação da água, maior arma conhecida no combate às cáries.
Oswaldo Cruz foi o responsável pela primeira grande campanha de vacinação no Brasil, em 1904. A iniciativa acabou em pancadaria, deixando um saldo de 23 mortos e 67 feridos no episódio conhecido como a Revolta da Vacina (!!).
Nos primórdios da Revolução Industrial, a Inglaterra substituiu as rocas de fiar pelos teares mecânicos. Em 1813 já havia 2.000 teares a vapor em funcionamento e, vinte anos depois, esse parque industrial já era cinqüenta vezes maior. As reações vieram em forma de ataques às fábricas e destruição dos teares.
Mas se há tantos exemplos de reacionarismo, há uma pletora de outros de vanguardismo.
Em 1882, o escritor, filósofo, filólogo e historiador francês Ernest Renan profetizou: “As nações não são eternas; elas começaram, elas terminarão. A Confederação Européia, provavelmente, as substituirá”. Um vanguardeiro que anteviu o futuro com precisão cirúrgica! Já imaginaram a dificuldade de aceitar a mudança da sua moeda? Da sua bandeira? Do seu hino nacional? Foram necessários 110 anos, mas, em 1992, o Tratado de Maastricht estabelecia a União Européia, cuja moeda é cada mais referência negocial, cuja bandeira é cada vez mais apreciada e cujo hino, a Ode à Alegria, de Beethoven, que conclama à fraternidade universal, é cada vez mais executado.
Aldous Huxley, o admirável autor do profético “Admirável Mundo Novo”, sintetiza o reacionarismo com maestria: “Toda mudança ameaça a estabilidade. É outra razão porque relutamos tanto em por em prática novas invenções. Toda descoberta e ciência pura são potencialmente subversivas”. (!!!)
O que caracteriza a distinção entre mudar e manter é que as pessoas beneficiárias pelas mudanças, inconscientes dos seus benefícios, são desarticuladas na sua defesa, enquanto as pessoas afetadas pelo “perigo” mudancista defendem, com, unhas e dentes, o status quo.
Essa reação em cadeia torna-se tão articulada, maciça e violenta que se transforma em verdade repressora. Ao longo da história da humanidade, essa “verdade” impôs a Sócrates a cicuta, à Joana D´Arc a fogueira, a Tiradentes a forca, ao nosso Barão de Batovi o fuzilamento.
Envenenados, queimados vivos, enforcados ou fuzilados, os arautos da mudança acabam triunfando com seus exemplos.

LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA- Senador

Um comentário:

  1. Pois é "papel" aceita tudo. Luiz Henrique da Silveira com pose de vanguardeiro é piada né...

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