quinta-feira, 19 de abril de 2012

Crenças e Convicções Vitais

Antônio Roberto Soares
Psicólogo
Encerrando esta série de artigos sobre Desenvolvimento Comportamental, reservamos para você 20 conclusões que poderão ser matéria de profunda reflexão, e cuja real compreensão poderá levar algum tempo, pelo que recomendamos que as leia mais vezes e medite sobre elas.
1.    Cremos que o homem é uno com o mundo e que viver é testemunhar no seu estar presente com esta ligação ao universo, deixando com que a vida flua livremente.
2.    Cremos que o homem é responsável pela sua vida e nada lhe acontece que não tenha sua participação ativa.
3.    Cremos que o crescimento do mundo é fruto das transformações interiores de cada pessoa e que essas transformações influenciam o exterior.
4.    Cremos que o trabalho é o modo do homem estabelecer e testemunhar a sua participação e que o trabalho não vale pelo que as outras pessoas achem dele, nem pelo seu lucro, mas pela intensidade, dedicação e gosto com que ele é feito.
5.    Cremos que a vida humana é múltipla em manifestações, mas uma só em essência.
6.    Cremos que crescer é fazer em níveis cada vez maiores a ligação entre os contrários.
7.    Cremos que a família, menos que um conjunto de obrigações, é um laboratório de treinamento na “operacionalização do amor”, uma experiência comum das diferenças individuais. É na diferença que se situam o crescimento e o amor.
8.    Cremos que as pessoas não são coisas e, portanto não são propriedades de ninguém.
9.    Cremos que o dinheiro é um meio, um instrumento de viver e não um fim na vida.
10. Cremos que o tempo não existe como força fora de nós, mas que o tempo somos nós mesmos em movimento, em transitoriedade, que a segurança não existe a não ser como aceitação da insegurança básica da pessoa humana. Que o amor, a bondade, a verdade e a ternura devem ser cultivadas não por uma imposição moral, mas porque fazem parte das leis naturais do mundo.
11.  Cremos que estamos na vida apenas para louvar a gratuidade, a simplicidade, o improviso. Que a vida só vive de improviso, no rascunho. Que nenhum de nós e o todo, mas apenas uma parte.
12.  Cremos que até nisso as pessoas são iguais: cada uma é diferente. Que somos crianças, adultos e velhos ao mesmo tempo. Que viver é juntar diariamente o separado e separar diariamente aquilo que está junto.
13.  Cremos que para aprender a nadar temos que aprender a mergulhar, que para aprender a ganhar, temos que aprender a perder, que para aprender a viver temos que aprender a morrer, que para aprender a sentir prazer, temos que aprender a sentir dor, que para aprender a saber, temos que aprender a não saber.
14.  Cremos que ser diferente é ser livre, que o passado e o futuro são importantes como referências da nossa vida e não como determinantes dela. Que existem o conhecido, o desconhecido e o incognoscível. Que o vazio faz parte do mundo e é onde recebemos o mundo. Que jamais teremos segurança total, inteligência total, presença total, saúde total, potência total.
15. Cremos que a nossa força vem da consciência de nossa fraqueza, que a nossa coragem vem da consciência do nosso medo. Que enfrentar as coisas, vem da consciência da nossa fuga. Que a nossa alegria vem da consciência da nossa depressão e que a nossa esperança vem da consciência do nosso desespero.
16. Cremos que nós somos bons, verdadeiros, honestos, livres e sábios por natureza, embora às vezes sejamos maus, falsos, desonestos, presos e ignorantes. Que o mal não existe em si mesmo é apenas uma ausência.
17.  Cremos que somos apenas um canal de manifestação da vida. Que lutar contra é uma forma de onipotência, é querer parar o fluxo harmônico da natureza.
18. Cremos que mestre é aquele que aprende, não aquele que ensina. Que a autoridade vem dos fatos e não das pessoas. Que não queremos, não podemos e nem devemos ter qualquer compromisso com o sucesso. Que viver é apenas viver e não viver em função de alguma coisa. Que não estamos no mundo para viver pela nossa esposa, pelos nossos filhos, nem por alguém, mas apenas para vivermos com eles. Que o amor existe quando somos bons e verdadeiros ao mesmo tempo.
19. Cremos que nascemos para ser e não para ter. Que o amor é liberdade, que liberdade é o casamento entre o que queremos e aquilo que podemos, que a vida é um mistério e nós somos parte dele. Que ajudar alguém não é dizer a outro como ele tem de ser, é ajudá-lo a se ajudar, é ajudá-lo a não precisar de nós.
20. Cremos que sempre é possível arranjar um desculpa para não nos divertirmos, nem para sermos felizes. Que amar é ser inocente, acreditar nas outras pessoas como uma criança acredita em outra criança. Que inocência é ver uma gota de orvalho em uma flor, é ver o broto das árvores, é ver uma borboleta, é saudar o por do sol, é deixar uma lágrima correr livre, é sujar a roupa branca, é sujar as mãos na terra, é rir dos nossos limites, é beijar o ar, respirar uma música, é contar as estrelas, é desprevenir-se, é descer no escorregador.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Depressão

Fred Schindler, Ph. D.
Períodos em que nos sentimos infelizes, prostrados ou solitários, acontecem ocasionalmente na vida da maioria das pessoas. O que ocorre é que a maioria sabe que deve esperar dias em que a energia está em baixa e a mente sombria, e aprende a aceitá-la ou a desenvolver maneiras de voltarem ao normal, geralmente com uma atitude de confiança de que as coisas voltarão a parecer mais promissoras em breve.
Às vezes, entretanto, os sentimentos de impotência e desesperança sobre nós mesmos, o mundo e o futuro se tornam tão fortes que nos levam ao estado que chamamos de depressão. Há vezes em que você pode perceber que tentou sair da situação e descobriu que as coisas ficam piores. A finalidade deste discurso é ajudá-lo a compreender melhor a natureza e função dos sintomas depressivos e descrever as oportunidades e o crescimento de que podemos usufruir em tempos de depressão.
É importante sabermos que, em sua maioria, as depressões não são doenças mentais, nem enfermidades sérias que exijam tratamento profissional ou remédios, ou ainda, longos períodos de psicoterapia. Antes, faz muito mais sentido compreender que a depressão, particularmente em seus estágios iniciais, é uma mensagem ou sinal, tal como a dor, de que uma parte de nós mesmos não está recebendo a atenção adequada.
Examine sua vida. A informação mais importante sobre as pessoas deprimidas é que são inativas e desinteressadas no que se refere a atividades agradáveis e compensadoras que são necessárias para manter uma vida satisfatória. Elas, em grande número, se deixaram levar a um estilo de vida no qual grande parte do tempo é utilizada em se preocupar, em se entregar ao marasmo ou ficar sem fazer nada. Além disso, o modo de pensar das pessoas deprimidas torna-se distorcido, com o resultado de que começam a perceber e interpretar seu mundo de um ponto de vista negro e infeliz.
Considere a seguinte situação: Você caminha por uma rua e vê um grupo de amigos ou conhecidos rindo e conversando. Normalmente, você começa a avaliar e tentar compreender o que é. Se você está em seu estado normal, pode muito bem ficar animado de ir logo visitar seus amigos e passar algum tempo com pessoas animadas e felizes. Mas pense no fato de que muitas pessoas deprimidas, numa situação exatamente igual, concluem que os amigos não estão nem um pouco interessados em conversar com elas e, podem achar que estão falando a seu respeito e que foram excluídas da conversa de propósito. Então, ao continuarem a andar, infelizes e rejeitadas, nem sequer percebem que uma excelente oportunidade de estar com outras pessoas foi desperdiçada.
O que existe nos estados “normais” de humor que nos permite obter satisfação dos relacionamentos com nossos amigos, e que está ausente quando estamos deprimidos? A resposta é, sem dúvida, a interpretação que damos aos acontecimentos de nossa vida. A depressão é o resultado de continuarmos a escolher interpretações que nos mantem distantes das pessoas e nos impedem de nos entregarmos a atividades que são pessoalmente compensadoras. Quando este padrão se repete, os sintomas depressivos mais sérios, tais como letargia, insônia, perda ou ganho de peso, ou mesmo suicídio, tendem a ocorrer.
Manter-se ativo é a chave para o tratamento e prevenção da depressão na maioria dos casos. O ciclo vicioso da inatividade e do isolamento, que ocorrem quando a pessoa pára de participar de atividades e situações que costumam lhe dar prazer, deve ser rompido. A melhor estratégia, pois, é encorajar, persuadir e até, mesmo forçar a si mesmo a manter-se ocupado, fazendo as coisas que costumavam ser apreciadas, mesmo que não sejam particularmente satisfatórias, no momento. Pesquisas científicas recentes vieram apoiar este modo de encarar a questão, demonstrando que um programa regular de aperfeiçoamento físico é um meio eficaz de combater a intensidade e a duração da maioria das depressões. É como se os exercícios e as atividades servissem para energizar o corpo e melhorar o estado de espírito, quem sabe até, por facilitar a produção de produtos químicos no cérebro, necessários para um funcionamento harmonioso.
Há um psicólogo que pede aos pacientes deprimidos que imaginem como seria se um determinado aspecto ou necessidade da vida pudesse ser colocado dentro de uma caixa. Assim, o apoio e o valor dos amigos e da vida social ficariam numa caixa; em outra, ficariam nossas necessidades de completar nossa vida profissional e a educação; em uma terceira caixa ficariam nossas buscas espirituais e religiosas; uma quarta caixa poderia conter os relacionamentos familiares. Obviamente, cada pessoa teria seu número individual de caixas contendo diferentes necessidades. É provável a ocorrência da depressão quando uma ou mais caixas estão vazias (ou não recebendo cuidados suficientes), não podendo prover as oportunidades de satisfação naquela área da vida. A felicidade é mantida quando existem valor e significado em todas as caixas.
Gaste alguns minutos separando em compartimentos as necessidades e aspectos de sua vida. É muito provável que, caso você esteja propenso à depressão, alguns compartimentos se mostrarem carentes de atenção. Não se deixe enganar pela crença de que a focalização apenas nos aspectos positivos e compensadores de sua vida seja meio eficiente de evitar o esforço necessário para aumentar a satisfação que falta nas caixas que estão vazias.
Se você perceber que não consegue motivar-se no sentido de fazer as mudanças necessárias á sua vida, então será importante procurar amigos, pessoas da família ou profissionais especializados que possam ajudá-lo. Muitas depressões, mesmo sem tratamento, tendem a diminuir ou desaparecer em poucos meses. A mente é capaz de energizar o corpo independentemente, sem que disto tomemos plena consciência. Entretanto, seja responsável o suficiente para tomar o controle da situação, evitando, assim, prolongar seu período de sofrimento.

Pontos a Ponderar
Richard A. Rawson, MD
1.    A depressão é uma das mazelas mais comuns da humanidade. É um entorpecimento da vivacidade – mental, emocional e fisicamente.
2.    Que efeitos as substâncias que afetam a estabilidade do metabolismo estão tendo sobre sua vida? Estas substâncias incluem o açúcar refinado, a cafeína, o álcool e muitos medicamentos vendidos sem receita médica.
3.    Todos nós somos afetados pelo ciclo diário de atividades: nutrição e descanso. Há certas horas do dia em que estamos mais alertas mentalmente, mais inclinados à  atividade física ou quando o descanso é essencial.
O ciclo acordar-dormir deve ser respeitado, com horários regulares de levantar e ir dormir. A fadiga emocional pode ser um sintoma de depressão. Ela não será aliviada com mais horas de sono; dormir em excesso normalmente piora o problema.
É aconselhável fazer algum tipo de exercício leve após levantar de manhã.
Caminhar é uma excelente opção.
Também é benéfico descansar por 20 ou 30 minutos na hora do almoço, para a maioria das pessoas.
4.    Muitas pessoas acreditam inconscientemente que o beijo de um príncipe encantado despertará a Bela Adormecida ou que o beijo de uma princesa transformará o sapo em príncipe. Enquanto esperam pelo milagre mágico, sua vivacidade irá se desvanecendo pela procrastinação.
5.    As tarefas rotineiras, especialmente as que são tediosas, como fazer a limpeza, lavar roupa, etc., devem ser feitas regularmente, de preferência seguindo um plano de realizá-las.
6.    A depressão aumenta seu poder por reforçar a ilusão da dificuldade e ligando a esta ilusão censuras e culpas.
7.    Nunca somos confrontados com um problema que não possamos resolver. Nossa responsabilidade está, pois, em descobrir e aplicar os recursos interiores necessários para vencer o problema.
8.    Tenha em mente que tudo que você está experimentando agora, seja agradável ou desagradável, possivelmente será reconhecido apenas mais tarde como um apoio positivo para que você alcance os seus próprios objetivos na vida.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Eu te Compreendo

Eu te Compreendo
Antônio Roberto Soares
Psicólogo
Sim, eu te compreendo. Eu sei das tuas tensões, dos teus vazios e da tua inquietude. Eu sei da luta que tens travado à procura de Paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la. Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das tuas vacilações e dos teus desânimos.
Eu te compreendo... Imagino o quanto tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais, familiares, afetivas, financeiras e sociais. Imagino que o mundo, de vez em quando, parece-te um grande peso que sentes obrigado a carregar. E tantas vezes, sem medir esforços.
Eu conheço as tuas dúvidas, as dúvidas da natureza humana. Percebo como te sentes pequeno quando teus sonhos acalentados vão por terra, quando tuas expectativas não são correspondidas. E essas inseguranças com o amanhã? E aquela inquietação atroz em não saberes se amanhã as pessoas que hoje te rodeiam ainda estarão contigo? De não saberes se reconhecerão o teu trabalho, se reconhecerão o teu esforço. E, por tudo isto, sofres, e te sentes como um barco sozinho num mar imenso e agitado.
E não ignoro que, muitas vezes, sentes uma profunda carência de amor. Quantas vezes pensaste em resolver definitivamente os teus conflitos no trabalho ou em casa. E nem sempre encontraste a receptividade esperada ou não tiveste força para encaminhar a tua proposta. Eu sei quanto doem os teus limites humanos e o quanto às vezes te parece difícil uma harmonia íntima. E não poucas vezes, a descrença toma conta do teu coração.
Eu te compreendo... Compreendo até tuas mágoas, a tristeza pelo que te fizeram, a tristeza pela incompreensão que te dispensaram, pelas ingratidões, pelas ofensas, pelas palavras rudes que recebeste. Compreendo até as tuas saudades e lembranças. Saudade daqueles que se afastaram de ti, saudade dos teus tempos felizes, saudade daquilo que não volta nunca mais... E os teus medos? Medo de perderes o que possuis, medo de não seres bom para aqueles que te cercam, medo de não agradares devidamente às pessoas, medo de não dares conta, medo de que descubram o teu íntimo, medo de que alguém descubra as tuas verdades e as tuas mentiras, medo de não conseguires realizar o que planejaste, medo de expressares os teus sentimentos, medo de que te interpretem mal.
Eu compreendo esses e todos os outros medos que tens dentro de ti. Sou capaz de entender também os teus remorsos, as faltas que cometeste, o sentimento de culpa pelos pequenos ou grandes erros que praticaste na tua vida. E sei que, por causa de tudo isso, às vezes te encontras num profundo sentimento de solidão. É quando as coisas perdem a cor, perdem o gosto e te vês envolto numa fina camada de indiferença pela vida. Refiro-me àquela tua sensação de isolamento, como se o mundo inteiro fosse indiferente às tuas necessidades e ao teu cansaço. E nesse estado, és envolvido pelo tédio e cada ação ou obrigação exige de ti um grande esforço. Sei até das tuas sensações de estares acorrentado, preso; preso às normas, aos padrões estabelecidos, às rotineiras obrigações: "Eu gostaria de... mas eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de, tenho que resolver, tenho que!...". Eu te compreendo... Compreendo os teus sacrifícios.
E a quantas coisas tens renunciado, de quantos anseios tens aberto mão!... E sempre acham que é pouco... Pouca coisa tens feito por ti e tua vida, quase toda ela, tem sido afinal dedicada a satisfazer outras pessoas. Sei do teu esforço em ajudar as outras pessoas e sei que isso é a semente de tuas decepções. Sei que, nas tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração. Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, as guerras, a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e com a desonestidade. Por tudo isso, carregas um grau excessivo de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida melhor, mais calma, mais significativa. Sei também que tens belos planos para o amanhã. Sei que queres apenas um pouco de segurança, seja financeira ou emocional, e sei que lutas por ela.
Mas, mesmo assim, tuas tensões continuam presentes. E tu percebes estas tensões nas tuas insônias ou no sono excessivo, na ausência de fome ou na fome excessiva, na ausência de desejo para o sexo ou no desejo sexual excessivo. O fato é que carregas e acumulas tensões sobre tensões: tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismos de alguns, nas condições inadequadas de salário e na inexistência de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na inveja dos colegas, no que dizem por trás. Tensões na família, nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa; nos conflitos e brigas constantes, onde todos querem ter razão; no desrespeito à tua individualidade, no controle e cobrança das tuas ações. Eu te compreendo, e te compreendo mesmo. E apesar de compreender-te totalmente, quero dizer-te algo muito importante. Escuta agora com o coração o que te vou dizer:

Eu te compreendo, mas não te apoio! Tu és o único responsável por todos estes sentimentos. A vida te foi dada de graça e existem em ti remédios para todos os teus males. Se, no entanto, preferes a autocomiseração ao invés de mobilizares as tuas energias interiores, então nada posso te oferecer. Se preferes sonhar com um mundo perfeito, ao invés de te defrontares com os limites de um mundo falho e humano, nada posso te oferecer.
 

Se preferes lamentar o teu passado e encontrar nele desculpas para a tua falta de vontade de crescer; se optastes por tentar controlar o futuro, o que jamais controlarás com todas as suas incertezas; se resolveste responsabilizar as pessoas que te rodeiam pela tua incompetência em tratar com os aspectos negativos delas, em nada posso te ajudar. Se trocaste o auto apoio pelo apoio e reconhecimento do teu ambiente, então nada posso te oferecer. Se queres ter razão em tudo que pensas; se queres obter piedade pelo que sentes; se queres a aprovação integral em tudo que fazes; se escolhestes abrir mão de tua própria vida, em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros, através de renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entendeste mal a regra máxima "Amar ao próximo como a ti mesmo", esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.
Se não tens um mínimo de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis ou dolorosos; se não tens um mínimo de humildade para te perdoares pelas tuas imperfeições; se desejas impressionar os outros e angariar a simpatia para teus sofrimentos; se não sabes pedir ajuda e aprender com os que sabem mais do que tu; se preferes sonhar, ao invés de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso te oferecer. Se achas que pelo teu desespero as coisas acontecerão magicamente; se usas a imperfeição do mundo para justificar as tuas próprias imperfeições; se queres ser onipotente, quando de fato és simplesmente humano; se preferes proteção à tua própria liberdade; se interiorizaste em ti desejos torturadores; se deixaste imprimirem-se em tua mente venenosas ordens de: "Apressa-te!", "Não erres nunca!", "Agrade sempre!"; se escolheste atender às expectativas de todas as pessoas; se és incapaz de dar um não quando necessário, em nada posso te ajudar. Se pensas ser possível controlar o que os outros pensam de ti; se pensas ser possível controlar o que os outros sentem a teu respeito; se pensas ser possível controlar o que os outros fazem; se queres acreditar que existe segurança fora de ti, repito:
Eu te compreendo, mas, em nome do verdadeiro Amor, jamais poderia apoiar-te! Se recusas buscar no âmago do teu ser respostas para os teus descaminhos, se dás pouca importância a teus sussurros interiores; se esqueceste a unidade intrínseca dos opostos em nossa vida terrena; se preferes o fácil e abandonastes a paciência para o Caminho; se fechaste teus ouvidos ao chamado de retorno; se perdeste a confiança a ponto de não poderes entregar tua vida à vontade onipotente de Deus; se não quiseste ver a Luz que vem do Leste; se não consegues encontrar no íntimo das coisas aquele ponto seguro de equilíbrio no meio de todas as tormentas e vicissitudes; se não aceitas a tua vocação de Viajante com todos os imprevistos e acidentes da Jornada; se não queres usar o tempo, o erro, a queda e a morte como teus aliados de crescimento, realmente nada posso fazer por ti.
Se aspiras obter proteção quando o que precisas é Liberdade; se não descobriste que a verdadeira Liberdade e a autêntica Segurança são interiores; se não sabes transformar a frase "Eu tenho que..." na frase "Eu quero!"; se queres que o fantasma do passado continue a fechar teus olhos para a infinidade do teu aqui e agora; se queres deixar que o fantasma do futuro te coloque em posição de luta com o que ainda não aconteceu e, provavelmente, não chegará a acontecer; se optaste por tratar a ti mesmo como a um inimigo; se te falta capacidade para ver a ti mesmo como alguém que merece da tua própria parte os maiores cuidados e a maior ternura; se não te tratas como sendo a semente do próprio Deus; se desejas usar teus belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumentos de auto-tortura; se achas que é amor o apego que cultivas pelos teus parentes e amigos; se queres ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança brincalhona que habita em ti; se alimentas a vergonha de te enternecer diante de uma flor ou de um por de sol; se através da lamentação recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te apoiar.
Mas, se apesar de todo o sono, queres despertar; se apesar de todo o cansaço, queres caminhar; se apesar de todo o medo, queres tentar; se apesar de toda acomodação e descrença, queres mudar, aceita então esta proposta para a tua Felicidade: A raiz de todas as tuas dificuldades são teus pensamentos negativos. São eles que te levam para as dores das lembranças do passado e para a inquietação do futuro. São esses pensamentos que te afastam da experiência de contato com teu próprio corpo, com o teu presente, com o teu aqui e agora e, portanto, distanciando-te de teu próprio coração. Tens presentes agora as tuas emoções? Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens presente agora a batida do teu coração? Tens agora a consciência do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua e é a partir dele que se inicia a caminhada para a Alegria.
Somente através dele se encaminha o retorno à Paz. Jamais resolverás os teus problemas somente pensando neles. Começa do mais próximo, começa pelo corpo. Através dele chegarás ao teu centro, ao teu vazio, àquele lugar onde a semente germina. Através da consciência corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás de acordo com a naturalidade da vida. Assume o teu corpo e os teus sentimentos, por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os, simplesmente observa-os. Não tentes mudar nada, sê apenas a tua dor. Presta atenção, não negues a tua dor. Para que fingir estar alegre se estás triste? Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás angustiado? Não lutes contra teus sentimentos, fica do teu próprio lado, deixa a dor acontecer, como deixas acontecer os bons momentos. Pára, deixa que as coisas sejam exatamente como são.
Entra nos teus sentimentos sem os julgar, não fujas deles, não os evites, não queira resolvê-los escapando deles - depois terás de te encontrar com eles novamente, é apenas um adiamento, uma prorrogação. Torna-te presente, por mais que te doa. E, se assim fizeres, algo de muito belo acontecerá! Assim como a noite veio, ela também se irá e então testemunharás o nascer do dia, pois à noite o sol escurece até a meia-noite e, a partir daí, começa um novo dia.

Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança e a vida entrando em ti. Se assim fizeres, entenderás com o coração que a semente morre mesmo, totalmente, antes de germinar e que a morte antecede a vida. E, se assim fizeres, poderei dizer-te então que: Eu te Compreendo e que, assim, tens todo o meu apoio! E verás com muita alegria que, justamente agora, já não precisas mais do meu apoio, pois o foste buscar dentro de ti e o encontraste dentro da tua própria dor! A causa é interior.
O homem traz a semente de sua vida dentro de si mesmo. O que quer que lhe aconteça, acontece por sua própria causa. As causas externas são secundárias; as causas internas são as principais. Existe a possibilidade de uma transformação... E que só você pode conseguir, basta querer...