O guri metido a intérprete de poemas deu certo e transformou-se em exemplo de criatividade e inspiração e sem medo de ousar quando sobe ao palco, usa e abusa do seu talento, explorando o que aprendeu de melhor com o mestre Jayme Caetano Braun. Pedro Junior da Fontoura não é só pajador. Sua performance confunde-se com o poeta, declamador, ator, letrista e professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
Sua figura e personalidade combinam muito bem com o conceito de pajador, pesquisado na Página do Gaúcho: “é o repentista que canta seus versos de improviso com o acompanhamento de milonga, feito por guitarra. No Sul do Brasil, o pajador canta seus versos em Décima Espinela no estilo recitado e não se acompanha musicalmente como nos países do Prata. Um músico de apoio executa a milonga para a pajada.”
O próprio Pedro revela que nasceu dentro do movimento tradicionalista, por intermédio de seus pais, em Porto Alegre , capital do RS, tendo se desgarrado para Bento Gonçalves muito cedo. Foi lá o lugar que escolheu para se aquerenciar e é onde reside, “entre aspas, porque vive na estrada, graças a Deus, com a agenda sempre cheia.”
Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, nas terças e quartas, dias em que fixa raiz e dentro do possível em sala de aula trabalha e mostra a estrutura da pajada para os alunos. São sempre 10 versos, todos em redondilha maior, ou seja, sete silábicos, sete sílabas poéticas, onde o 1º verso rima com o 4º e com o 5º; o 2º com o 3º; o 6º com o 7º e com o 10º e o 8º com o 9º. São quatro rimas intercaladas. É bastante complicado, mas é algo que vem da Idade Média. Só prá citar um exemplo, a maior obra escrita na Língua Portuguesa, Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões de Camões, foi escrita em décimas.
Pedro Jr. começou como declamador e iniciou bem cedo a escrever principalmente letras para músicas. Tem várias obras gravadas por diversos nomes da cultura gaúcha.
A pajada sempre foi algo que lhe chamou muito a atenção. Coração Estradeiro, seu primeiro disco, de 1995, foi apresentado por Jayme Caetano Braun, que foi quem lhe ensinou a estrutura da pajada e a técnica do improviso, na casa do próprio mestre, freqüentada por Pedro durante muito tempo.
Com a morte de Jayme, no dia 8 de julho de 99, foi anunciado que a pajada teria morrido e de certo modo, aquele foi um momento de ruptura. “Nós que éramos chegados ao Jayme e à sua família sentimos que tínhamos um compromisso maior com a pajada. E em 30 de janeiro de 2000, fizemos um show internacional de pajadores no rodeio da Vacaria, onde decretamos extra oficialmente que o dia do aniversário do nascimento de Jayme (30 de janeiro) seria O Dia do Pajador, numa homenagem ao grande mestre. Depois a data foi oficializada pela Assembléia Legislativa do RS. A partir daí criamos um movimento muito forte de pajadores que está crescendo. Hoje temos a Associação de Pajadores e declamadores do RS, gravamos um CD chamado Pajadores do Brasil e esta arte tem crescido muito.
O jornalista, radialista e pajador Paulo de Freitas Mendonça é um dos destaques do movimento, ministrando cursos e desenvolvendo vários projetos interessantes no Brasil e exterior.
Pedro Jr. hoje é referência nos rodeios e em outros eventos, transformando as atividades de apresentador e pajador em uma das suas principais fontes de renda. Foi no palco do Rodeio do CTG Os Praianos em São José , que o encontramos, onde ele se confunde com a poesia, na presença da força da vida, que junta o tradicional e o novo sem esquecer as suas raízes, que são as mesmas da cultura gaúcha e traduzem a sua alma gaudéria.
Texto inédito
Entrevista, foto e texto feitos em 29/04/2007 por Véra Regina Friederichs
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