domingo, 16 de janeiro de 2022

A idade mais feliz

 



Nossa quadrilha do Cras em uma de tantas festas juninas e julinas. Pura diversão 
   


  O que fazem os velhinhos, os idosos, os da melhor idade, aposentados ou outras definições quaisquer para pessoas que finalmente conseguem dedicar um tempo às próprias vidas? Que buscam o amor apaixonando-se por si mesmos e aprendem a perdoar-se primeiro, para depois perdoarem os outros?

      Sabe-se que  os brasileiros estão envelhecendo. A medicina avança  trazendo a longevidade e mais qualidade de vida. Como estamos nos preparando para esta nova realidade? Que possibilidades e realidades são oferecidas a estas pessoas?

     De uma das mais belas ilhas do litoral catarinense, São Francisco do Sul,  vem um exemplo do que já foi realizado entre os idosos que participaram do Centro de Convivência do Idoso, que faz parte do Cras Ubatuba com muito sucesso.

     Entre estas atividades, vamos destacar a apresentação de quatro Oficinas, que deram show dos anos 60, em uma Mostra de Dança  na Associação de Moradores do Iperoba.

     "Nós, os idosos nos emocionamos, ao lembrar que somos do tempo em que se respeitavam os idosos, em que a verdade revalecia sobre a mentira, em que a honestidade tinha o seu valor, em que todos trabalhavam, estudavam e se respeitavam. Temos saudade  do tempo em que os filhos respeitavam os pais e os professores. Hoje gostaríamos que os professores e diretores ensinassem as nossas crianças a respeitar os idosos e a aprender com eles, a ter paciência de ouvi-los e a lhes dar muito amor e carinho."

     Para a apresentação, os velhinhos caracterizados com roupas dos anos 60, deixaram muita garotada no chinelo. A decoração, os trajes e as músicas voltaram no tempo." As meninas" de saias godês bem rodadas, com bolinhas coloridas, tiaras no cabelo com grandes laços coloridos, laços nos sapatos pretos e outros adereços.

     "Os gatos", de calças jeans e jaquetas de couro, sem contar com os cupidos de carne e osso flechando os mais desavisados. Lamento que eu não fosse o alvo de suas flechas até então.

     O chefe do cerimonial me chamou de idosa, quando pediu prá eu ler uma poesia sobre a dança, mas eu não gostei. Ainda não tinha 60 anos, mas pensei prá quem está de saia godê e já dançou "Lacinhos Cor-de-Rosa para o prefeito, nada mais importa.

     A idade mais apropriada seria 15 anos. Foi assim que me senti. E ainda me sinto, mesmo agora que atingi a maioridade.

     Conseguimos nos superar dançando: Lacinhos Cor-de-Rosa, Biquini de Bolinha Amarelinha, Estúpido Cupido e Splish Splash, com todas as nossas limitações, graças à paciência, dedicação, amor e carinho de três jovens educadores sociais: o Edson, a Maria Marli e o Rony. Os nossos queridos mestres abalaram as estruturas quando dançaram Broto Legal.

     Para a apresentação das danças dos anos 60, tivemos oito ensaios.

     Depois, nos preparamos para uma quarilha junina, nos transformando  em caipiras  como homens e mulheres. A caracterização coube a cada um nos deixando muito engraçados e alguns irreconhecíveis.

     Após a primeira apresentação fora do Cras, os convites não pararam mais. Nos divertimos e mostramos o nosso trabalho em várias festas da ilha, entre as quais a Apae e o Lar dos Idosos.

     Nossa fama foi longe e recebemos um convite da Prefeitura de Barra do Sul para uma apresentação na sua festa junina. De volta a São Francisco do Sul, os convites continuaram até o fim do mês e estenderam-se, transformando-se em festas julinas e até em agosto.

     "A cada nova apresentação, a emoção e a adrenalina se misturam... O coração acelera, as pernas tremem, a respiração fica ofegante, a boca seca. Mas enfrentamos o medo e encaramos novos palcos e públicos diferentres.

     No final, os aplausos e o sentimento de dever cumprido, a alegria de sermos capazes, úteis e o prazer dos abraços e da confraterização com os amigos, que passam a ser uma nova família, preenchendo em muitos casos o tempo ocioso, o vazio, a solidão, a depressão e a tristeza. É hora de respirarmos novos ares e de buscarmos as simples coisas da vida, que estão ao nosso alcance e podem mudar o roteiro dos nossos dias.

   Chegamos, enfim, à idade mais feliz.


    Texto lido no Cine Teatro

    Texto postado em verajornalista.blogspot.com  14/09/2011

    Texto publicado em Blog do Sared 17/09/2011

    Texto publicado noJornal Notícias do Dia em 07/09/2011

     

     


  




     

     


domingo, 2 de janeiro de 2022

Jair Rodrigues

     Recém chegada de São Leopoldo, RS, para trabalhar no jornal A Notícia, em Joinville, SC, me hospedei um mês no Novo Hotel Joinvillle que ficava na Rua Abdon Batista, ao lado do antigo prédio da Notícia e depois aluguei um apartamento em frente à praça Getúlio Vargas, ao lado do antigo Catarinão. Em pouco tempo, o local virou ponto de encontro para os colegas do jornal, que aos poucos iam chegando, desde o início da noite até os retardatários, que faziam o fechamento da primeira página.

     Para acompanhar a conversa, não podiam faltar uma cerveja gelada e o som de um violão, que um ou outro teimava em tocar, nem sempre com aquela afinação esperada. Se o violão deixava a desejar, imaginem a cantoria que tentava acompanhá-lo. É claro que a vizinhança não via com bons olhos aquelas reuniões, pelo adiantado da hora e porque muitos tinham compromissos no outro dia, com estudos, escola dos filhos ou trabalho. Os mais afoitos  chegavam a chamar a polícia. Muitas vezes, os policiais batiam à porta. Com o tempo, foram ficando conhecidos e até nossos amigos. Sempre bem educados e gentis, pediam para baixarmos o volume, porque os vizinhos precisavam descansar. Levando em consideração a sua gentileza, atendíamos o seu pedido e a paz voltava a reinar.

     Uma noite, a Natália Silveira, de Tubarão, repórter do jornal e  da Rádio Cultura, que dividia o apartamento comigo, foi entrevistar o Jair Rodrigues, que se apresentou no antigo Ginásio de Esportes do Floresta, conhecido como Gigantão do Floresta. Lá pelas tantas, boa parte da galera já estava reunida lá no apartamento, quando a Natália começou a gritar lá de baixo. Nós estávamos no segundo andar. Não entendemos nada. Pensamos: O que deu nessa louca? E continuamos o rumo da prosa.

     Quando ela subiu e abriu a porta, ficamos em choque. Eis que surge na soleira da porta nada mais nada menos que Jair Rodrigues. E de chegada, já surpreendeu a todos, dando um mergulho nos almofadões que estavam no chão, já que eu não tinha sofás ou móveis na sala. A partir de então, cativou a todos, com a sua alegria, simlicidade, humildade e inteligência. Um exemplo de ser humano, de caráter, da sua grandioside e genialidade. Uma noite inesquecível.