quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A lição dos pássaros


Quando o teólogo Leonardo Boff escreveu o livro "A Águia e a Galinha", uma metáfora da condição humana estudou a fundo o comportamento das águias. Percebeu que nele há grandes lições que podemos aplicar em situações atuais. Um fragmento desta pesquisa que não teve aproveitamento no livro, mas sempre mencionado nas suas palestras é a forma como as águias ensinam seus filh...otes a serem autônomos e a voar com suas próprias forças. É uma etapa difícil, mas necessária, tanto para a mãe quanto para os filhotes.
Nunca cheguei perto de um ninho de águia, mas a natureza permitiu-me testemunhar um desenvolvimento mágico. No final de uma tarde de verão encontrei um ninho caído junto à palmeira no meu quintal. Ao lado, um filhote de sabiá, pelado, com algumas penugens ao redor das asas. Apesar de emitir um guincho ensurdecedor, o pequeno pássaro não estava ferido, só assustado com a queda. Penalizado, devolvi ao galho o filhote dentro do ninho. Tudo sob os olhares atentos da mamãe sabiá, que parecia entender as minhas boas intenções.
Passei a observar o comportamento da mamãe sabiá, que dedicava atendimento integral à cria. Ela o alimentava três vezes por dia e antes de anoitecer fazia minuciosa limpeza no ninho, retirando excrementos e restos de comida. Esse procedimento, certamente era para não atrair insetos e outros animais que poderiam incluir o seu pimpolho na famosa cadeia alimentar.
Após algumas semanas, a mãe escasseou a comida e voltava em intervalos maiores. Em substituição riscava o céu sobre o ninho, numa estudada acrobacia aérea, como a mostrar ao filhote o vigor das suas asas e a sua capacidade de fazer o mesmo. É uma forma de dizer que está na hora de voar, de viver a sua própria vida. Acompanhei a angústia do filhote e suas vacilantes tentativas de lançar-se ao espaço, num misto de coragem e medo.
Certa manhã encontrei o ninho vazio. A natureza cumpriu o seu ciclo.
É assim que funciona também conosco. A proteção materna é fundamental em uma etapa da vida, mas o prolongamento disso atrofia as nossas asas e nos transforma em criaturas dependentes e incapazes de viver a vida em plenitude. Somos seres familiares, mas cada um com o seu próprio universo. O desenvolvimento pessoal passa inevitavelmente pelo medo de cair, mas se sustenta na coragem de alçar vôo.

LÉO SABALLA

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