terça-feira, 5 de maio de 2020

Falta de Caridade

     O templo espírita tinha dimensões pequenas.
      Mas os amigos arranjaram um microfone. E  Neves da Cruz, o orador convidado, falou para grande multidão. Gente por toda a parte, entupindo portas e abafando janelas. A maior parte dos ouvintes enfrentava a noite do lado de fora.
     Depois de belas considerações em alta voz, Neves terminou:
     "Caridade, meus amigos. Todos nós podemos dar. Os Mensageiros Divinos acompanham todos aqueles que servem com amor. Fugir à caridade é cair na avareza. Viver na preguiça é cair no tédio. E avareza e tédio fazem as doenças sem cura.
     Muito aplaudido, Neves retirou-se para o lanche em casa de amigos. E depois do lanche, o recolhimento no hotel, para a viagem do dia seguinte. Fazia calor e, sem sono, desceu à calçada e pôs-se a ler sob a luz da marquise.
     Nisso, passa um velho esfarrapado e, pede estendendo a mão magra como um graveto de carne viva:
     "Uma esmola pelo amor de Deus!"
     Neves enfia a mão gorda e quente no bolso do paletó e sentindo-se antecipadamente na posse da oferta, diz o mendigo:
     " Que os Bons Espíritos o acompanhem..."
     O provável doador, no entanto,  só encontra uma nota de cem cruzeiros como dinheiro trocado e desiste.
     Vendo que a mão vinha vazia, o ancião completou revoltado:
     " E nunca o  alcancem..."
     Notando que estava sendo censurado, Neves torna a mergulhar os dedos no bolso, e o pedinte falou novamente encorajado:
     "Que os Bons Espíritos o acompanhem e nunca o alcancem com doenças..."
         Cem cruzeiros, porém, no conceito de Neves era muito e a mão voltou sem nada.
          Ao perder a esperança, o velho acrescentou:
      "Que possam ser curadas."
     "Mas isso é uma injúria!" disse Neves, irritado.
     "Quem ensinou o senhor a pedir assim, rogando pragas?"
      E o velho:
     "Hoje na Casa Espírita, um homem falou que os Bons Espíritos acompanham as pessoas caridosas e que falta de caridade faz as moléstias sem cura.
     Neves ruborizado, sem dizer  palavra, meteu a mão  no bolso, arrancou a cédula de cem cruzeiros e deu-a ao velho.


     Pelo Espírito Hilário Silva


     Do livro Almas em Desfile


     Médium Francisco Cândido Xavier

Um comentário:

  1. Terei prazer em te seguir e em te ter como seguidor. Seja bem vindo. Abraços

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