Afinal o que eu sinto é o sofrimento atroz
De muito tarde descobrir
Que nunca falaremos em "nós"
Porque eu serei eu
E tu serás tu
E eternamente assim
Nem nunca me terás
Como queres que eu seja
E nem nunca serás como quero que tu sejas para mim.
Muito tarde...
Muito tarde...
Depois que assim te quero
E preciso de ti
Como os pulmões de ar,
Como os olhos de luz,
É que vou descobrir
Que se ficarmos juntos
Eu poderei te odiar
E tu poderás me odiar
Quem diria afinal
Ao que o amor se reduz?
Estraguei tua vida
E desgraçaste a minha
E fomos acordar os dois
Tarde demais
Agora?
Eu sigo só.
E tu?
Tu seguirás sozinho
Fugindo covarde desse amor que me espinha
E eu medrosa...
E o que é estranho
É que nos amamos
E sentimos, no entanto,
Que nos separamos
Cada um com a sua sombra dolorosa
Inconformados na dor cruel nos convencemos
De que nunca na vida
Eu e tu seremos "nós"
Autor: J.G. de Araújo Jorge
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