Seria ingênuo pensar que
estamos vivendo uma época pior que os tempos passados.
Muitos idosos saudosistas aqui presentes
acham que nós somos menos felizes hoje do que antigamente.
Alguém se lembra aqui, provavelmente há
muito pouco tempo, da época em que a gente assistia televisão e colocava na
antena interna um Bombril pra captar a imagem.
Quem se lembra disso levanta a mão.
Vocês se lembram como era a televisão
colorida até 1970?
Como fazíamos pra enxergar cores na
televisão?
Papel celofane vermelho, azul e verde.
As televisões eram todas com válvulas
grandes e muito ineficientes, porque dificilmente nós conseguíamos ver alguma
imagem.
Então as poucas pessoas que tinham condições
de ter uma televisão eram aquelas da vizinhança, que tinham mais recursos.
Quando eram caridosas, convidavam seus vizinhos pra assistirem algumas
programações que nunca entravam no ar.
Era o famoso “Tele vizinho.”
Quando surgiu a televisão colorida, nós
ficamos encantados. Assistíamos à programação das redes de televisão
brasileiras e lá por 1974 foi que se teve uma copa do mundo de futebol, onde
conseguimos ver a cor da camiseta da seleção brasileira e distingui-la das
demais.
Era um acontecimento.
Alguém já namorou por carta? Não estou
falando por e-mail, face ou watsap. Eu namorei. Morava em São Leopoldo, na
grande Porto Alegre, RS, quando em 1979, formada em Jornalismo, me mudei pra
Joinville a mais de 700 quilômetros de distância.
Deixei na minha terra natal um namorado e
não tinha jeito. Namoro só por carta. O tempo e a distância se encarregaram de
acabar com o encantamento e a paixão.
O interessante das cartas é que levavam
alguns dias para chegar. E quando a gente recebia era uma grande emoção. Lia-se
frase por frase, parágrafo por parágrafo, devagar, porque não tinha como chegar
outra carta em pouco tempo.
Quem namorou por carta ou escreveu alguma,
levanta a mão. Viu só prefeito, como tem gente antiga nesta plateia? Inclusive
eu.
Depois da chegada da Internet, da
comunicação acelerada, hoje nós recebemos um watsap e instantaneamente
respondemos.
Uma das características da nossa vida
moderna é a aceleração.
Ninguém quer mais se comunicar por cartas
e muito menos usar Bombril pra assistir à televisão. Tenho certeza que esse é
um aspecto do passado, que não nos interessa mais.
O grande problema do progresso está na
velocidade com que os acontecimentos e as informações nos chegam.
Joana de Angelis diz que junto com a
globalização, nós desenvolvemos a inquietude, a insegurança e a ansiedade. E dá
pra entender, porque assim como nós precisamos interromper as nossas atividades
na hora do almoço, para nos alimentarmos com uma refeição, precisamos depois,
de um tempo para a digestão.
Do ponto de vista mental, nós também
necessitamos de um tempo mínimo para absorver e digerir algumas informações.
Quais os maiores obstáculos ao progresso?
O orgulho e o egoísmo.
Refiro-me ao progresso moral, porque o
progresso intelectual acontece sempre. A nossa grande dificuldade está em
conciliarmos os avanços intelectuais com os pacatos e lerdos avanços morais.
A nossa vida tecnológica e a nossa vida
intelectual ganharam um processo de velocidade muito acentuado, mas nós
espiritualmente não avançamos na mesma medida.
Nós temos uma dificuldade muito grande de
avançarmos inteiros neste processo. Nos apresentamos numa capa de modernidade e
de progresso intelectual.
Vivemos a época da beleza. Vivemos a época
da tecnologia, mas, vivemos também a época da miséria moral, porque quanto mais
se avança intelectualmente, mais se sobressaem e se destacam as nossas
dificuldades sobre o ponto de vista da ética e do nosso comportamento.
Sabemos que é inevitável o nosso
crescimento, mas o nosso desafio aumentou, porque nós precisamos desenvolver
uma capacidade muito maior de generosidade para termos condições pelo menos de
olharmos uns para os outros e darmos um sorriso sincero, para não nos tornarmos
superficiais.
Temos que tomar muito cuidado, porque se
existe algo que devemos manter entre nós, idosos, é o amor genuíno, verdadeiro,
de afetividade, de calor humano.
Ao sairmos daqui, quando voltarmos para as
nossas casas e depois de passarmos esta semana reunidos nesta confraternização
de amizade e esporte, nós temos a obrigação de nos voltarmos a nós mesmos e fazermos
uma séria reflexão.
Nos tornarmos pessoas melhores. Não
pessoas melhores no discurso, na colocação intelectual, o que também é
importante, mas nos tornarmos melhores nos pequenos detalhes do nosso dia a
dia. Nos tornarmos melhores, modificando comportamentos interiores, combatendo
por exemplo, a nossa inveja e o nosso orgulho. Nos tornarmos melhores, vigiando
os nossos pensamentos, sentimentos e atitudes.
Nos tornarmos melhores sabendo envelhecer.
Não há nenhum problema em envelhecer. As
pessoas que sabem envelhecer, sabem também que este é o momento da vida em que
as aquisições materiais só podem ganhar sentido, se forem acompanhadas dos
valores espirituais essenciais mais nobres e mais profundos da nossa caminhada.
Existe uma diferença entre aceitar a idade
e conviver bem com ela ou negá-la.
Na negação, a pessoa tem um comportamento
incompatível com a condição de vida em
que ela está, que é muito comum hoje em dia as pessoas viverem como se fossem
jovens quando já estão, por exemplo, com 60 anos ou mais.
Elas estão tentando viver uma fase da vida
que já passou e não há organismo que resista.
Para encerrar esta reflexão escolhi o
texto “Viajantes”, de Sérgio Lopes, que diz mais ou menos assim:
“Anda, avança viajante do tempo.
Não são teus os passos vencidos, sequer os
devaneios que se perderam na escuridão.
e o rio não volta à fonte, também a vida
não anda para trás.
Tenho os pés para escalar os montes e
asas na alma para sonhar a paz.
Talvez no passado sofrido, guarda as
lágrimas de infortúnios teus.
Anda, avança viajante do tempo.
A vida começa agora.
E logo virão as glórias, tuas conquistas
nos braços de Deus.”
Fontes:
Sérgio Lopes, Mário Quintana, Joana de Angelis, Allan Kardec.
Muito sábias colocações Vera! Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirJunto o que era bom no passado e misturo com o Bom do presente. É assim que sou FELIZ, e agradecendo as bençãos concedidas.
ResponderExcluirJunto o que era bom no passado e misturo com o Bom do presente. É assim que sou FELIZ, e agradecendo as bençãos concedidas.
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