domingo, 30 de agosto de 2020

"Nós"

     Afinal o que eu sinto é o sofrimento atroz
     De muito tarde descobrir
     Que nunca falaremos em "nós"
     Porque eu serei eu
     E tu serás tu
     E eternamente assim
     Nem nunca me terás
     Como queres que eu seja
     E nem nunca serás como quero que tu sejas para mim.
     
     Muito tarde...
     Muito tarde...
     Depois que assim te quero
     E preciso de ti
     Como os pulmões de ar,
     Como os olhos de luz,
     É que vou descobrir
     Que se ficarmos juntos
     Eu poderei te odiar
     E tu poderás me odiar
     Quem diria afinal
     Ao que o amor se reduz?

     Estraguei tua vida
     E desgraçaste a minha
     E fomos acordar os dois
     Tarde demais
     Agora?
     Eu sigo só.
     E tu?
     Tu  seguirás sozinho
     Fugindo covarde desse amor que me espinha
     E eu medrosa...
     E o que é estranho
     É que nos amamos
     E sentimos, no entanto,
     Que nos separamos
     Cada um com a sua sombra dolorosa
     Inconformados na dor cruel nos convencemos
     De que nunca na vida
     Eu e tu seremos "nós"

     Autor: J.G. de Araújo Jorge


     
 
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário