Espiritismo
e Política
A transformação íntima só se
torna efetiva e verdadeira quando ela é irradiada para a coletividade em que
estamos inseridos. O Espiritismo nos fala da realidade do espírito e do seu
processo evolutivo, ensinando-nos que a felicidade é uma construção individual
e coletiva. Ninguém conseguirá ser feliz com o seu entorno emitindo gritos de
carências e lágrimas de dores. Ninguém será feliz sozinho ou rodeado de poucos.
O tema escolhido para esta
exposição é um convite aberto para todos nós espíritas, para que possamos fazer
uma reflexão corajosa sobre o nosso atual estágio de cidadania .
A questão não é deixar de fazer
algo que esteja sendo feito, mas sim, analisarmos se não estamos deixando de
fazer algo que já deveríamos estar fazendo.
A Título de Reflexão
Deve o espírita esforçar-se para
cumprir os seus deveres de cidadão e exercer os seus direitos políticos? - A
Doutrina Espírita conscientiza a criatura humana, levando-a a tornar-se um
"homem de bem" no sentido global? - Que têm feito as Instituições
Espíritas para favorecer o processo de conscientização sócio política dos seus
frequentadores?
Em Torno do Conceito de Política
Algumas pessoas, no meio
espírita, reagem de maneira negativa e, às vezes, até assustadas quando se fala
em política, demonstrando desinformação e preconceito. Existe até um tabu de
que Política entra em confronto com o zelo doutrinário. Na realidade a Política
é bem mais abrangente e está presente em tudo que o homem realiza. Todos nós
somos políticos.
Há mais de 2000 anos o filósofo grego
Aristóteles escreveu que o homem é um "animal político" e não estava
brincando. Estava dizendo uma coisa seriíssima, que permanece válida até hoje.
Política é toda atividade que as pessoas praticam com o objetivo de influenciar
os acontecimentos, o pensamento e, sobretudo as decisões da sociedade em que
vivem. No quotidiano confirma-se a natureza política do homem, uma vez que a
vida em comum e as formas de coexistência são ordenadas segundo os sistemas de
governo e, nessas condições, querendo ou não participar, podendo ou não atuar
na vida política, o homem recebe direta ou indiretamente os efeitos desses
sistemas e paga pelas consequências.
Os líderes religiosos têm forte
papel político. E mesmo nós, cidadãos comuns, fazemos política com muita frequência,
mesmo não tendo consciência disso. No supermercado, quando falamos mal do
governo, ou nas reuniões sociais, quando falamos mal ou bem do partido tal ou
do ministro tal, estamos tentando fazer a cabeça dos outros, que por sua vez
tentarão fazer a de outros. Ou seja, estamos contribuindo para formar a
"opinião pública". Mesmo se o peso desses atos é pequeno, o fato é
que, ao praticá-los, estamos participando do processo político.
O Evangelho apresenta,
igualmente, a mais elevada fórmula de vida político-administrativa aos povos da
Terra: O Reino do Amor. O Espiritismo em seus aspectos científico, filosófico e
religioso tem muito a ver com a compreensão e organização da sociedade, a fim
de que ela seja mais justa e amorosa e, através de seus adeptos, atue na
realização do Reino de Jesus --- Reino da Verdade, do Amor e da Justiça ---
sobre a face da Terra.
Um Ensaio Sobre Espiritismo e
Política
"Para nós, a política é a
ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos firmaremos".
Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
Reflexão
Haverá alguma relação entre
Espiritismo e Política? Sobre o aspecto filosófico, o Espiritismo tem a ver e
muito com a Política, já que esta deve ser a arte de administrar a sociedade de
forma justa. Consequentemente, o espírita não pode declinar da sua cidadania e
deve vivenciá-la de forma consciente e responsável.
O Brasil sempre foi alvo de
muitas esperanças. Falava-se em país do futuro, em berço da nova civilização e,
nos meios espíritas, em "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho." O
grande problema é que nós, brasileiros nunca demonstramos grande empenho para
alcançar concretamente esses títulos. Boa parte dos trabalhos de ciência
política no Brasil trazem uma característica marcante: a constatação de que a
sociedade brasileira é dependente do Estado e que não tem apego a valores como
democracia, liberdade e igualdade. Não temos tradição de participação, de
reivindicar nossos direitos. A sociedade
é uma das maiores responsáveis pelos males que a atingem. Somos um País que não
se conscientizou de que depende da sociedade colaborar na resolução de muitos
problemas dos quais o Estado não consegue dar conta.
- Manifestações
O Brasil só vai poder dizer-se Pátria do
Evangelho quando der os primeiros passos na construção de uma sociedade
realmente democrática, justa e fraterna. Quando, enfim, nós brasileiros olharmos
para a sociedade e percebermos que fazemos parte dela. Se uma pessoa está
sofrendo, em um determinado local, todos sofremos, pois os problemas dela
acabam nos atingindo de uma maneira ou de outra, seja por meio da violência ou
dos mecanismos econômicos mais complexos.
E o que tem a ver o Espiritismo com isso? O
espírita tem em suas mãos instrumentos poderosos de participação (e de
transformação) da sociedade: as federativas, os centros espíritas, as
instituições específicas, os órgãos de comunicação. Podemos, no mínimo,
auxiliar na mudança de mentalidade de seus adeptos.
Sabemos que Kardec recomendou aos
centros que deixassem de lado as questões políticas. Mas essa afirmação
significa que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e
militâncias partidárias, pois o lugar para o seu exercício é nas agremiações e
locais respectivos. Assim, jamais o Espiritismo, como Doutrina, e o Movimento Espírita,
como prática, poderão dar guarida a um partido político como por exemplo: Partido Social Espírita,
Partido Espírita Cristão, etc.
As questões políticas decorrem
dos próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em
reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais,
prática da caridade, etc. fala-se sobre política. Principalmente, quando se
fala em transformação da sociedade, como aparece a todo momento na Codificação
(particularmente no capítulo final da Gênese), estamos falando de política.
"Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? - Em instruir os
homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por
meios diretos e materiais". (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos).
Qual o posicionamento de um espírita frente a
questões como violência, menores abandonados, educação, desemprego, racismo,
discriminação social. O que podemos fazer em nosso meio para combater esses
problemas? Não adianta querer ser espírita no plano espiritual. Podemos e
devemos estudar a moral espírita em sua teoria. Mas não há como fugir: a sua
aplicação prática será, quer queiramos ou não, na realidade concreta,
enfrentando esses problemas do cotidiano.
- Joaquim Barbosa candidato a
Presidente da República
Segundo J. Herculano Pires, em “O
Centro Espírita”, "O Espiritismo se
liga a todos os campos das atividades humanas, não para entranhar-se neles, mas
para iluminá-los com as luzes do Espírito. Servir o mundo através de Deus é a
sua função e não servir a Deus através do mundo (...)." Por tudo isso,
devemos entender que são fundamentais o Espiritismo e a Política para a
construção de Uma Nova Sociedade.
Como o espírita não deve atuar na
Política:
1. Levar a política partidária para
dentro do Centro, das Entidades ou do Movimento Espírita;
2. Utilizar-se de médiuns e
dirigentes espíritas para apoiar políticos partidários a cargos eletivos aos
Poderes Executivo e Legislativo;
3. Catar votos para políticos que,
às vezes, dão alguma "verbinha" para asilos, creches e hospitais, mas
cuja conduta política não se afina com os princípios éticos ou morais do
Espiritismo;
4. Apoiar políticos que se dizem
espíritas ou cristãos, mas aprovam as injustiças, as barganhas, a
"politicagem" (usar a política partidária para interesses egoístas
pessoais ou de grupos a que se ligam);
5. Participar da política partidária
apenas por interesse pessoal, para melhorar a sua vida e de sua família,
divorciado em sua militância político-partidária dos princípios e normas da
Filosofia Espírita.
Como o espírita deve atuar na
Política:
1. O espírita pode e deve estudar e
refletir sobre os princípios político-filosófico-espíritas no Centro Espírita,
pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Das Leis
Morais;
2. Através da análise, do estudo e
da reflexão das normas e princípios acima referidos, o espírita deve
identificar o egoísmo, o orgulho e a injustiça nas instituições humanas,
denunciando-as e agindo para que elas desapareçam da sociedade.
3. Confrontar os fundamentos morais
e objetivos do Espiritismo com os fundamentos morais e objetivos dos partidos
políticos, verificando de forma coerente qual ou quais deve apoiar e até mesmo
participar como membro atuante, se tiver vocação para tal, sabendo, no entanto,
da responsabilidade que assume nesse campo, já que sua militância deve sempre
estar voltada para o interesse do ser humano, em seus aspectos social e
espiritual. Para isso, sua ação política deverá estar em harmonia com os
valores éticos (morais) do Espiritismo que, em última análise, são
fundamentalmente os mesmos do Cristianismo;
4. Participar de organizações e
movimentos que lutem pela Justiça, pelo Amor, pelo progresso intelectual, moral
e físico das pessoas. Exemplos: clubes de serviços, sindicatos, associações de
classe, diretórios acadêmicos, movimentos de respeito e defesa dos direitos
humanos, etc.;
5. Fazer do voto um elevado
testemunho de amor ao próximo; Considerando que a sociedade humana é dirigida
por políticos que saem das agremiações partidárias e suas influências podem
ajudar ou atrasar a evolução intelecto-moral da humanidade, o voto, realmente,
é uma forma de exprimir o amor ao próximo e à coletividade. Deve, pois,
analisar se a conduta do candidato político-partidário tem maior ou menor
relação com os princípios morais e políticos (aspecto filosófico) do
Espiritismo;
6. Participar conscientemente da
ação política na sociedade, sem relegar o estudo e a reflexão do Espiritismo a
plano secundário. Pelo contrário, o estudo e a reflexão dos temas espíritas
deverão levá-lo à permanente participação, objetivando a aplicação concreta do
Amor e da Justiça ao ser humano, seja individual ou coletivamente.
Conclusão
"E quem governa seja como
quem serve". Jesus - (Lucas, 22:26) O advento da Nova Era passará,
inevitavelmente, pela renovação política. Nada muda se os políticos não
mudarem. "A força das coisas possibilita a mudança, mas não se construirá
uma sociedade mais justa, mais livre, mais feliz, sem que cada família, cada grupo,
cada cidade, cada nação elabore seu projeto e organize sua ação para chegar a
essa sociedade melhor". (Questões nºs 860 e 1019 de O Livro dos Espíritos).
Cristo ensinou a paciência e a
tolerância, mas nunca determinou que seus discípulos estabelecessem acordos com
os erros que infelicitam o mundo. Em face dessa decisão foi à cruz e legou o
último testemunho de não-violência, mas também de não-acomodação com as trevas
em que se compraz a maioria das criaturas.
Para o aprimoramento da sociedade
deve-se trabalhar a fim de aumentar o número de pessoas esclarecidas, justas e
amorosas de maneira que suas ações preponderem sobre a dos maus. Como diz J.
Herculano Pires (O Reino. p.137) "O chamado de uma nova ordem social está
clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de atendê-lo, porque é
um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis transitórias
dos homens é a expressão da própria vontade de Deus".
Se, na realidade, o cristão
ficasse apenas na fé, orando e contemplando o mundo à grande distância, sem
participar do trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a
palavra do Cristo teria influência. “O verdadeiro cristão, o que tem o
Evangelho dentro de si, e não apenas o que repete versículos e sentenças, não
pode cruzar os braços dentro de um mundo arruinado e poluído pelos vícios, pela
imoralidade e pelo egoísmo”. (Questão nº
573 de O Livro dos Espíritos). Alterar essa estrutura social que fomenta o
egoísmo em todos os grupos sociais é providência urgente.
Precisamos aproveitar a força das
coisas, que está criando possibilidades de mudanças. Isso só pode ser feito,
como diz Allan Kardec, combatendo todas essas causas, senão ao mesmo tempo,
pelo menos por parte. Notemos a palavra por parte e não uma de cada vez. Ao
interferirmos em um sistema, diz-nos a teoria que não podemos interferir para
mudar, sem agir em uma série de coisas. Atuar em uma coisa de cada vez é inútil,
pois o próprio sistema se defenderá eliminando o que o ameaça. No entanto, o
caminho parece ser colocar novos princípios em prática nas famílias,
instituições, escolas, igrejas, em todos os grupos sociais, de forma que muitos
movimentos sociais comecem a demonstrar a viabilidade de novas soluções.
(Questões nºs 791 a 793 e 797 de O Livro dos Espíritos).
- Passeatas
A polêmica idéia de que o Brasil
está destinado a cumprir o papel de "Coração do Mundo e Pátria do
Evangelho" sempre foi acompanhada de reflexões muito entusiastas. Se ele
realmente tem uma missão histórica a realizar, então é preciso começar a pensar
o Brasil de um ponto de vista mais realista. Só assim poderemos cumpri-la.
A grande questão é encontrar o
elemento humano disposto à execução das mudanças. Quase todos os homens se
atiram à conquista dos postos de autoridade e evidência, mas geralmente se
encontram excessivamente interessados com as suas próprias vantagens no
imediatismo do mundo.
O grande desafio do espírita consciente é
participar ativamente desse movimento de transformação social, alicerçado no
conhecimento das Leis Morais contidas em O Livro dos Espíritos, buscando: -
Politizar-se para escolher melhor; - Esclarecer amigos e familiares sobre o
voto consciente; - Participar de grupos de ação comunitária, além do centro
espírita; - Votar com amor, para eleger os mais moralizados.
Preponderar sobre os maus, como
já vimos, é apenas uma questão de vontade. Foi a esta conclusão que chegou
Martin Luther King (Os Grandes Líderes), ao afirmar: "Não há nada mais
trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Não posso ficar
no meio de todas essas maldades sem tomar uma atitude." Toda a estrutura
da Doutrina Social Espírita está calcada na Codificação e esta deve ser a base
para a construção de Uma Nova Sociedade. Assim, a implantação da Política da
Fraternidade deve ser para todo espírita consciente um ideal a ser atingido.
Ensaio elaborado a partir de
transcrições do Livro O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade – Aylton
Paiva - Lins. Casa dos Espíritas.
Outras obras consultadas:
- Rumos
para Uma Nova Sociedade – O Espiritismo e as Ciências Sociais – Autores
Diversos - Edições USE.
- Estudos
de Filosofia Social Espírita – Ney Lobo – FEB
- Alma
e Luz – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – Instituto de Difusão Espírita.
- Jornal
Opinião E. de Maio de 1997 – Especial – Eduardo Fernandes.
- O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
- O
Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.
- A Gênese
– Allan Kardec.
- Obras
Póstumas – Allan Kardec.
- O
Reino – J. H. Pires/Irmão Saulo – São Paulo. Editora Edicel.
- O
Espiritismo e Os Problemas Humanos – D. Amorim & H. C.Miranda – São
Paulo: Editora USE.
- Caminho,
Verdade e Vida – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – FEB.
- Os
Grandes Líderes – Martin Luther King - Nova Cultural.
- Como
Não Ser Enganado nas Eleições – Gilberto Dimenstein – Editora Ática.
- Elementos
da Engenharia Social – Décio Silva Barros – Editora do Escritor – SP.
Exposição
feita na segunda-feira, 24 de junho, no Centro de Estudos Espíritas Allan
Kardec, em Ubatuba, São Francisco do Sul, SC por Véra Regina Friederichs
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