quarta-feira, 26 de junho de 2013

Espiritismo e Política

Espiritismo e Política
A transformação íntima só se torna efetiva e verdadeira quando ela é irradiada para a coletividade em que estamos inseridos. O Espiritismo nos fala da realidade do espírito e do seu processo evolutivo, ensinando-nos que a felicidade é uma construção individual e coletiva. Ninguém conseguirá ser feliz com o seu entorno emitindo gritos de carências e lágrimas de dores. Ninguém será feliz sozinho ou rodeado de poucos.
O tema escolhido para esta exposição é um convite aberto para todos nós espíritas, para que possamos fazer uma reflexão corajosa sobre o nosso atual estágio de cidadania .
A questão não é deixar de fazer algo que esteja sendo feito, mas sim, analisarmos se não estamos deixando de fazer algo que já deveríamos estar fazendo.
A Título de Reflexão
Deve o espírita esforçar-se para cumprir os seus deveres de cidadão e exercer os seus direitos políticos? - A Doutrina Espírita conscientiza a criatura humana, levando-a a tornar-se um "homem de bem" no sentido global? - Que têm feito as Instituições Espíritas para favorecer o processo de conscientização sócio política dos seus frequentadores?
Em Torno do Conceito de Política
Algumas pessoas, no meio espírita, reagem de maneira negativa e, às vezes, até assustadas quando se fala em política, demonstrando desinformação e preconceito. Existe até um tabu de que Política entra em confronto com o zelo doutrinário. Na realidade a Política é bem mais abrangente e está presente em tudo que o homem realiza. Todos nós somos políticos.
Há mais de 2000 anos o filósofo grego Aristóteles escreveu que o homem é um "animal político" e não estava brincando. Estava dizendo uma coisa seriíssima, que permanece válida até hoje. Política é toda atividade que as pessoas praticam com o objetivo de influenciar os acontecimentos, o pensamento e, sobretudo as decisões da sociedade em que vivem. No quotidiano confirma-se a natureza política do homem, uma vez que a vida em comum e as formas de coexistência são ordenadas segundo os sistemas de governo e, nessas condições, querendo ou não participar, podendo ou não atuar na vida política, o homem recebe direta ou indiretamente os efeitos desses sistemas e paga pelas consequências.
Os líderes religiosos têm forte papel político. E mesmo nós, cidadãos comuns, fazemos política com muita frequência, mesmo não tendo consciência disso. No supermercado, quando falamos mal do governo, ou nas reuniões sociais, quando falamos mal ou bem do partido tal ou do ministro tal, estamos tentando fazer a cabeça dos outros, que por sua vez tentarão fazer a de outros. Ou seja, estamos contribuindo para formar a "opinião pública". Mesmo se o peso desses atos é pequeno, o fato é que, ao praticá-los, estamos participando do processo político.
O Evangelho apresenta, igualmente, a mais elevada fórmula de vida político-administrativa aos povos da Terra: O Reino do Amor. O Espiritismo em seus aspectos científico, filosófico e religioso tem muito a ver com a compreensão e organização da sociedade, a fim de que ela seja mais justa e amorosa e, através de seus adeptos, atue na realização do Reino de Jesus --- Reino da Verdade, do Amor e da Justiça --- sobre a face da Terra.
Um Ensaio Sobre Espiritismo e Política
"Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos firmaremos". Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
Reflexão
Haverá alguma relação entre Espiritismo e Política? Sobre o aspecto filosófico, o Espiritismo tem a ver e muito com a Política, já que esta deve ser a arte de administrar a sociedade de forma justa. Consequentemente, o espírita não pode declinar da sua cidadania e deve vivenciá-la de forma consciente e responsável.
O Brasil sempre foi alvo de muitas esperanças. Falava-se em país do futuro, em berço da nova civilização e, nos meios espíritas, em "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho." O grande problema é que nós, brasileiros nunca demonstramos grande empenho para alcançar concretamente esses títulos. Boa parte dos trabalhos de ciência política no Brasil trazem uma característica marcante: a constatação de que a sociedade brasileira é dependente do Estado e que não tem apego a valores como democracia, liberdade e igualdade. Não temos tradição de participação, de reivindicar nossos  direitos. A sociedade é uma das maiores responsáveis pelos males que a atingem. Somos um País que não se conscientizou de que depende da sociedade colaborar na resolução de muitos problemas dos quais o Estado não consegue dar conta.
- Manifestações
 O Brasil só vai poder dizer-se Pátria do Evangelho quando der os primeiros passos na construção de uma sociedade realmente democrática, justa e fraterna. Quando, enfim, nós brasileiros olharmos para a sociedade e percebermos que fazemos parte dela. Se uma pessoa está sofrendo, em um determinado local, todos sofremos, pois os problemas dela acabam nos atingindo de uma maneira ou de outra, seja por meio da violência ou dos mecanismos econômicos mais complexos.
 E o que tem a ver o Espiritismo com isso? O espírita tem em suas mãos instrumentos poderosos de participação (e de transformação) da sociedade: as federativas, os centros espíritas, as instituições específicas, os órgãos de comunicação. Podemos, no mínimo, auxiliar na mudança de mentalidade de seus adeptos.
Sabemos que Kardec recomendou aos centros que deixassem de lado as questões políticas. Mas essa afirmação significa que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e militâncias partidárias, pois o lugar para o seu exercício é nas agremiações e locais respectivos. Assim, jamais o Espiritismo, como Doutrina, e o Movimento Espírita, como prática, poderão dar guarida a um partido político  como por exemplo: Partido Social Espírita, Partido Espírita Cristão, etc.
As questões políticas decorrem dos próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais, prática da caridade, etc. fala-se sobre política. Principalmente, quando se fala em transformação da sociedade, como aparece a todo momento na Codificação (particularmente no capítulo final da Gênese), estamos falando de política. "Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? - Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais". (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos).
 Qual o posicionamento de um espírita frente a questões como violência, menores abandonados, educação, desemprego, racismo, discriminação social. O que podemos fazer em nosso meio para combater esses problemas? Não adianta querer ser espírita no plano espiritual. Podemos e devemos estudar a moral espírita em sua teoria. Mas não há como fugir: a sua aplicação prática será, quer queiramos ou não, na realidade concreta, enfrentando esses problemas do cotidiano.
- Joaquim Barbosa candidato a Presidente da República
Segundo J. Herculano Pires, em “O Centro Espírita”,  "O Espiritismo se liga a todos os campos das atividades humanas, não para entranhar-se neles, mas para iluminá-los com as luzes do Espírito. Servir o mundo através de Deus é a sua função e não servir a Deus através do mundo (...)." Por tudo isso, devemos entender que são fundamentais o Espiritismo e a Política para a construção de Uma Nova Sociedade.
Como o espírita não deve atuar na Política:
1.   Levar a política partidária para dentro do Centro, das Entidades ou do Movimento Espírita;
2.   Utilizar-se de médiuns e dirigentes espíritas para apoiar políticos partidários a cargos eletivos aos Poderes Executivo e Legislativo;
3.   Catar votos para políticos que, às vezes, dão alguma "verbinha" para asilos, creches e hospitais, mas cuja conduta política não se afina com os princípios éticos ou morais do Espiritismo;
4.   Apoiar políticos que se dizem espíritas ou cristãos, mas aprovam as injustiças, as barganhas, a "politicagem" (usar a política partidária para interesses egoístas pessoais ou de grupos a que se ligam);
5.   Participar da política partidária apenas por interesse pessoal, para melhorar a sua vida e de sua família, divorciado em sua militância político-partidária dos princípios e normas da Filosofia Espírita.
Como o espírita deve atuar na Política:
1.   O espírita pode e deve estudar e refletir sobre os princípios político-filosófico-espíritas no Centro Espírita, pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Das Leis Morais;
2.   Através da análise, do estudo e da reflexão das normas e princípios acima referidos, o espírita deve identificar o egoísmo, o orgulho e a injustiça nas instituições humanas, denunciando-as e agindo para que elas desapareçam da sociedade.
3.   Confrontar os fundamentos morais e objetivos do Espiritismo com os fundamentos morais e objetivos dos partidos políticos, verificando de forma coerente qual ou quais deve apoiar e até mesmo participar como membro atuante, se tiver vocação para tal, sabendo, no entanto, da responsabilidade que assume nesse campo, já que sua militância deve sempre estar voltada para o interesse do ser humano, em seus aspectos social e espiritual. Para isso, sua ação política deverá estar em harmonia com os valores éticos (morais) do Espiritismo que, em última análise, são fundamentalmente os mesmos do Cristianismo;
4.   Participar de organizações e movimentos que lutem pela Justiça, pelo Amor, pelo progresso intelectual, moral e físico das pessoas. Exemplos: clubes de serviços, sindicatos, associações de classe, diretórios acadêmicos, movimentos de respeito e defesa dos direitos humanos, etc.;
5.   Fazer do voto um elevado testemunho de amor ao próximo; Considerando que a sociedade humana é dirigida por políticos que saem das agremiações partidárias e suas influências podem ajudar ou atrasar a evolução intelecto-moral da humanidade, o voto, realmente, é uma forma de exprimir o amor ao próximo e à coletividade. Deve, pois, analisar se a conduta do candidato político-partidário tem maior ou menor relação com os princípios morais e políticos (aspecto filosófico) do Espiritismo;
6.   Participar conscientemente da ação política na sociedade, sem relegar o estudo e a reflexão do Espiritismo a plano secundário. Pelo contrário, o estudo e a reflexão dos temas espíritas deverão levá-lo à permanente participação, objetivando a aplicação concreta do Amor e da Justiça ao ser humano, seja individual ou coletivamente.
Conclusão
"E quem governa seja como quem serve". Jesus - (Lucas, 22:26) O advento da Nova Era passará, inevitavelmente, pela renovação política. Nada muda se os políticos não mudarem. "A força das coisas possibilita a mudança, mas não se construirá uma sociedade mais justa, mais livre, mais feliz, sem que cada família, cada grupo, cada cidade, cada nação elabore seu projeto e organize sua ação para chegar a essa sociedade melhor". (Questões nºs  860 e 1019 de O Livro dos Espíritos).
Cristo ensinou a paciência e a tolerância, mas nunca determinou que seus discípulos estabelecessem acordos com os erros que infelicitam o mundo. Em face dessa decisão foi à cruz e legou o último testemunho de não-violência, mas também de não-acomodação com as trevas em que se compraz a maioria das criaturas.
Para o aprimoramento da sociedade deve-se trabalhar a fim de aumentar o número de pessoas esclarecidas, justas e amorosas de maneira que suas ações preponderem sobre a dos maus. Como diz J. Herculano Pires (O Reino. p.137) "O chamado de uma nova ordem social está clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de atendê-lo, porque é um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis transitórias dos homens é a expressão da própria vontade de Deus".
Se, na realidade, o cristão ficasse apenas na fé, orando e contemplando o mundo à grande distância, sem participar do trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a palavra do Cristo teria influência. “O verdadeiro cristão, o que tem o Evangelho dentro de si, e não apenas o que repete versículos e sentenças, não pode cruzar os braços dentro de um mundo arruinado e poluído pelos vícios, pela imoralidade e pelo egoísmo”.  (Questão nº 573 de O Livro dos Espíritos). Alterar essa estrutura social que fomenta o egoísmo em todos os grupos sociais é providência urgente.
Precisamos aproveitar a força das coisas, que está criando possibilidades de mudanças. Isso só pode ser feito, como diz Allan Kardec, combatendo todas essas causas, senão ao mesmo tempo, pelo menos por parte. Notemos a palavra por parte e não uma de cada vez. Ao interferirmos em um sistema, diz-nos a teoria que não podemos interferir para mudar, sem agir em uma série de coisas. Atuar em uma coisa de cada vez é inútil, pois o próprio sistema se defenderá eliminando o que o ameaça. No entanto, o caminho parece ser colocar novos princípios em prática nas famílias, instituições, escolas, igrejas, em todos os grupos sociais, de forma que muitos movimentos sociais comecem a demonstrar a viabilidade de novas soluções. (Questões nºs 791 a 793 e 797 de O Livro dos Espíritos).
- Passeatas
A polêmica idéia de que o Brasil está destinado a cumprir o papel de "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho" sempre foi acompanhada de reflexões muito entusiastas. Se ele realmente tem uma missão histórica a realizar, então é preciso começar a pensar o Brasil de um ponto de vista mais realista. Só assim poderemos cumpri-la.
A grande questão é encontrar o elemento humano disposto à execução das mudanças. Quase todos os homens se atiram à conquista dos postos de autoridade e evidência, mas geralmente se encontram excessivamente interessados com as suas próprias vantagens no imediatismo do mundo.
 O grande desafio do espírita consciente é participar ativamente desse movimento de transformação social, alicerçado no conhecimento das Leis Morais contidas em O Livro dos Espíritos, buscando: - Politizar-se para escolher melhor; - Esclarecer amigos e familiares sobre o voto consciente; - Participar de grupos de ação comunitária, além do centro espírita; - Votar com amor, para eleger os mais moralizados.
Preponderar sobre os maus, como já vimos, é apenas uma questão de vontade. Foi a esta conclusão que chegou Martin Luther King (Os Grandes Líderes), ao afirmar: "Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Não posso ficar no meio de todas essas maldades sem tomar uma atitude." Toda a estrutura da Doutrina Social Espírita está calcada na Codificação e esta deve ser a base para a construção de Uma Nova Sociedade. Assim, a implantação da Política da Fraternidade deve ser para todo espírita consciente um ideal a ser atingido.
Ensaio elaborado a partir de transcrições do Livro O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade – Aylton Paiva - Lins. Casa dos Espíritas.
Outras obras consultadas:
  • Rumos para Uma Nova Sociedade – O Espiritismo e as Ciências Sociais – Autores Diversos - Edições USE.
  • Estudos de Filosofia Social Espírita – Ney Lobo – FEB
  • Alma e Luz – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – Instituto de Difusão Espírita.
  • Jornal Opinião E. de Maio de 1997 – Especial – Eduardo Fernandes.
  • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.
  • A Gênese – Allan Kardec.
  • Obras Póstumas – Allan Kardec.
  • O Reino – J. H. Pires/Irmão Saulo – São Paulo. Editora Edicel.
  • O Espiritismo e Os Problemas Humanos – D. Amorim & H. C.Miranda – São Paulo: Editora USE.
  • Caminho, Verdade e Vida – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – FEB.
  • Os Grandes Líderes – Martin Luther King - Nova Cultural.
  • Como Não Ser Enganado nas Eleições – Gilberto Dimenstein – Editora Ática.
  • Elementos da Engenharia Social – Décio Silva Barros – Editora do Escritor – SP.

Exposição feita na segunda-feira, 24 de junho, no Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec, em Ubatuba, São Francisco do Sul, SC por Véra Regina Friederichs

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