Juarez Machado
Artista plástico
Joinvilense por toda minha vida, e em qualquer lugar do mundo , percebo com a desagradável surpresa da cidadania traída a heresia que estão pretendendo fazer agora com um marco da nossa hitória, a Rua das Palmeiras.
No ano de 1976, convidado pela inteligente e culta administração da Prefeitura na época, com total apoio da população, juntos idealizamos o projeto de revitalização daquele espaço . Desenhei com precisão histórica, talento profissional e orgulho nacional a mais humana e democrática rua do nosso país. Coloquei em escala de valor o Palácio dos Príncipes e suas nobres palmeiras imperiais, menosprezando poluidoras e barulhentas passagens de automóveis, mas permitindo acesso pleno aos veículos dos moradores, aos ciclistas e transeuntes visitantes. Projetei um gigantesco tapete verde transformando a estreita rua em ampla praça tanto sob o ponto de vista da rua dos Príncipes quanto do Museu Nacional da Imigração e Colonização.
É permitido pisar na rama, era o lema para ser praticado com liberdade pelas crianças em suas alegres brincadeiras, pelos adultos animados por serenatas musicais e espetáculos teatrais ao ar livre, pelos idosos em busca do sol, ar puro e boa conversa. Inspirei-me na distante, mas sempre presente infância em Joinville, quando deitávamos no úmido gramado para mirar o céu azul ou até mesmo seus tons de cinza entre as silhuetas rendadas ds folhas das árvores. Como hoje ainda é hábito no Cental Park, em Nova York; no Hyde Park, em Londres; La Grad Place, de Bruxelas, Piazza San Marco, de Veneza; ou os Jardins des Tuleries e Place de Tertes, em Paris.
Nesta semana, antes de retornar a Paris, onde resido e mantenho atelier, voltei à Alameda Brustlein. Com profunda tristeza e extrema indignação , registrei a degradação que todos já conhecem. Até intrusos canteiros lembrando obscuros túmulos fazem parte da atual paisagem.
A responsabilidade certamente recai sobre o omisso poder público e boa parte da população, no que diz respeito à sujeira, à falta de segurança, à desordenada invasão, à ausência de senso de urbanidade, estética, mobilidade urbana e qualidade de vida. Ainda sinto orgulho e quero o melhor para minha e nossa Joinville. A Rua das Palmeiras não é apenas via igual às outras, estacionamento depredador ou esconderijo de desocupados. Deve e pode ser ponto de encontro do consciente cidadão, com muitas lojas promovendo e comercializando os bons produtos catarinenses . Lojas equipadas com obras de arte, réplicas das peças dos museus, gravuras de artistas, múltiplos de design e esculturas, muitos livros, discos e feiras de artesanato de qualidade. Grife custa caro.
Devo confessar um segredo. Minha vida é viajar pelo mundo e dentro da minha mala carrego sempre uma bandeira de Joinville que penduro no quarto dos hotéis.
Jornal Notícias do Dia, 23 de fevereiro de 2012
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