quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

O raio atolado I

Meu pai era um pescador de mão cheia e como todo bom pescador era um campeão em contar histórias e "causos" fantásticos e jurava que todos eles podiam passar pelo crivo da máquina da verdade. Pois sim, até hoje, tenho lá minhas dúvidas.


Uma destas histórias nos leva para uma casa abandonada há muito tempo, na beira de um rio, um dos locais preferidos por ele e por seus amigos para acampar por dias e noites, enquanto pescavam.


Para terem uma noite de sono tranquilo, escolhiam um deles para ficar de guarda. Eis que naquela noite, havia algo de estranho e sobrenatural no ar. Mesmo assim, foram dormir.

Enquanto isso, estava se preparando uma grande tempestade e lá pelas tantas, os fantasmas moradores começaram a assombrar nossos valentes pescadores.


O céu, que já estava escuro, começou a ficar carregado com nuvens pesadas e mais escuras ainda.  O vento foi tomando conta de tudo, além de raios e trovoadas. Quanto mais o vento soprava, os raios e trovões ficavam mais assustadores e o medo ia aumentando na mesma proporção.


Não tardou para uma violenta chuva cair após muito granizo. O cenário ideal para a alma dos que perambulavam  por ali aparecerem e acabarem com o sossego de quem ousasse ocupar o mesmo espaço que eles consideravam como seu.


Dentro da casa, muitas goteiras e sustos perturbavam o sono dos pescadores, como o barulho de correntes se arrastando, gemidos e gargalhadas... Mais parecia um filme de terror. Em meio àquela movimentação toda dentro da casa, alguns arrepiados e com medo do que iriam enfrentar, resolveram sair e quando decidiram, um barulho ensurdecedor começou a vir de fora também.


E agora? O que fazer? O barulho ia aumentando, como se um jipe ou um carro 4x4 atolado estivesse se aproximando e fazendo força para desatolar-se. Já que estavam a caminho do desconhecido e que para dentro da casa não podiam mais voltar, enfrentaram o medo e saíram. E pasmem. Deram de cara com um raio atolado.


Véra Regina Friederichs


15/12/2021

 

2 comentários:

  1. Minha avó contava lindas e temerosas histórias de árvores assombradas, rios que cantavam e pedrinhas que rolavam pelos caminhos.

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    1. É verdade. Os nossos avós, nossos pais e tias nos encantavam e assombravam com estas histórias misteriosas e maravilhosas, Pena que com o tempo elas vão se extinguindo.

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