segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Chico Xavier


Há dez anos, no dia 30 de junho, partia para o mundo espiritual o médium espírita Francisco Cândido Xavier. Com a idade de 92 anos, dos quais 75 dedicados a tarefas espíritas, Chico Xavier completou uma existência de dedicação ao bem.
No mês de julho transcorreram eventos significativos relacionados com a vida de Chico Xavier e com a história do Espiritismo. No dia 8 de julho completaram-se os 85 anos da primeira psicografia do então jovem médium, com apenas 17 anos. No mesmo mês, transcorreram aniversários de lançamentos de duas importantes obras psicográficas: 80 anos da obra inaugural “Parnaso de Além Túmulo” e 70 anos do romance histórico “Paulo e Estevão”.
A vida e obra de Chico Xavier têm sido transformadas em filmes e uma nova película pode ser assistida neste momento em cinemas de todo o Brasil, inclusive em Joinville: “E A Vida Continua…” É baseado no livro de mesmo título, de autoria do Espírito André Luiz.  Aliás, o livro citado já foi adaptado para novela – “A Viagem”, exibida duas vezes, pela antiga TV Tupi e pela TV Globo.
Uma década após sua desencarnação, Chico Xavier é uma referência nacional, como exemplo de dedicação ao esclarecimento espiritual, ao bem e à paz.

A vida de Chico Xavier
A infância
Chico Xavier nasceu no dia 2 de abril de 1910 na pequena cidade de Pedro Leopoldo, situada a 35 quilômetros de Belo Horizonte. Filho do vendedor de bilhetes de loteria João Cândido Xavier e da dona-de-casa Maria João de Deus, ele manifestou cedo sua extraordinária capacidade de entrar em contato com o outro mundo. Já aos quatro anos, surpreendeu a todos, ao explicar, em linguagem médica, o aborto de uma vizinha.
Aos cinco anos, ele fica órfão de mãe e o pai separa os seus nove filhos entre parentes e amigos. Chico passa a viver, então, com a madrinha Rita de Cássia e o padrinho José Felizardo Sobrinho. Permanece com o casal por dois anos.
Durante o tempo em que vive com a madrinha, passa por dolorosas experiências. Acreditando que o afilhado tinha o diabo no corpo, já que ele lhe contava suas visões do outro mundo, a madrinha lhe dava surras com vara de marmelo e chegava até a lhe enterrar garfos na barriga.
O menino passa a ter visões da mãe no quintal da casa da madrinha, onde costumava se refugiar para orar. Dona Maria João lhe anuncia que um anjo bom logo apareceria para ajudá-lo. Pouco tempo depois, o pai casa-se novamente. A nova esposa, Cidália Batista, exige que os filhos do primeiro casamento do marido venham a morar com ela, inclusive o pequeno Chico.
Com o passar dos anos, começa a ter um contato cada vez mais frequente com os espíritos. Nas missas, pela manhã, vê figuras reluzentes transformarem hóstias em focos de luz e pessoas já mortas trazendo rosas nas mãos e beijando os santos. Relata o que vê e o que ouve, mas seu pai acha que ele está louco. Pensa em interná-lo num hospício.
Chico escapa da camisa-de-força por obra do vigário de Pedro Leopoldo, Sebastião Scarzelli, que sugere a João Cândido colocar o menino para trabalhar na fábrica de tecidos da cidade, que estava empregando crianças para o turno da noite. Isso permitiria o reforço do pequeno orçamento doméstico da família.
Aos nove anos, ele inicia uma dura jornada. Às 3h da tarde entrava na fábrica, onde era tecelão, trabalhando até a uma da manhã. Dormia até as 6 horas, ia para a escola, saía às 11, almoçava, dormia uma hora depois do almoço, e voltava à pesada rotina.
Em 1922, o país comemorava o centenário da independência e o governo de Minas instituiu prêmios para redações sobre o tema. No grupo escolar de Pedro Leopoldo, Chico, já entrando na adolescência, escreve ditado por um ser invisível, o seguinte: “O Brasil, descoberto por Pedro Álvares Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo...”.
Chico comentou a visão com a professora, D. Rosária Laranjeiras, que, católica fervorosa, não lhe deu crédito, mandando-o voltar à carteira e terminar a redação. O trabalho recebeu menção honrosa da Secretaria de Educação de Minas, mas os colegas de Chico, desconfiando que ele houvesse copiado o texto de um livro, desafiaram-no a fazer um exame público para que comprovasse sua capacidade de redação.
Sortearam um novo tema, mais difícil: “Areia”. O misterioso ser surge novamente e lhe dita: “Ninguém zombe da criação. O grão de areia é quase nada, mas parece uma estrela pequenina refletindo o Sol de Deus...”.
Chico concluiu o primário em 1923, tendo repetido o último ano por problemas de saúde: dificuldades respiratórias, originárias da poeira de algodão na fábrica de tecidos, onde trabalhava.
Adolescência e juventude
Com a saúde prejudicada em função da longa jornada e do tipo de trabalho, Chico decidiu tentar outra atividade. Passou a trabalhar no Bar do Dove, de Claudiomiro Rocha, onde varria o chão, lavava louça e cozinhava.
Com um salário reduzido, que não lhe permitia comprar um par de sapatos, troca o Bar do Dove, onde foi empregado por dois anos, pelo armazém do padrinho José Felizardo Sobrinho. Apesar de ter que trabalhar como balconista das 7 às 20 horas, a exigência física era muito menor que na fábrica de tecidos e o pagamento maior que no bar.
Em maio de 1927, uma das irmãs de Chico, Maria Xavier, sofre grave desequilíbrio mental. Até então, toda a família seguia os princípios da Igreja Católica, mas foi pedida ajuda espírita, já que o problema não conseguia ser resolvido através da medicina.
Depois da aplicação de passes, a moça recupera-se. A partir de então, o jovem Chico passa a se aprofundar no conhecimento do espiritismo, lendo o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Aprende, então, o que é mediunidade.
Ainda em 1927, ele ajuda na fundação do primeiro centro espírita de Pedro Leopoldo, num barracão onde morava um irmão de Chico, José Xavier, que assume a presidência. Chico se torna secretário e seu patrão e padrinho, José Felizardo, tesoureiro. A primeira mensagem que Chico recebe é da mãe, Maria João de Deus.
No ano de 1931, Chico tem o seu primeiro contato com Emmanuel, seu orientador espiritual. Ao buscar a beira de um açude, perto de Pedro Leopoldo, onde costumava se refugiar para meditar e orar, foi surpreendido com a imagem envolta por raios de luzes de um senhor imponente, vestido com uma túnica típica dos sacerdotes. Emmanuel logo se apresentou e lhe relatou as três exigências que teria que cumprir caso quisesse trabalhar na mediunidade: “Disciplina, disciplina e disciplina”.
Em 1932, foi publicada a primeira obra psicografada por Chico: Parnaso de Além-Túmulo, que reuniu 14 nomes da literatura brasileira uma coletânea de 56 poesias ditadas pelos espíritos de Augusto dos Anjos e Castro Alves, entre outros, que causou polêmica no meio literário.
Fase Adulta
Em 1935, passa a psicografar textos de Humberto de Campos, que havia morrido em dezembro de 1934. Também em 1935, sai a segunda edição de Parnaso de Além-Túmulo, com acréscimos que levaram a obra a quase triplicar de tamanho. Foram incluídos poemas psicografados de Olavo Bilac e de outros poetas brasileiros e portugueses, já falecidos.
Nesse mesmo ano, o jornal O Globo publica uma série de reportagens sobre o médium, o que fez com que a fama de Chico Xavier ultrapassasse as fronteiras de Minas Gerias e começasse a atrair pessoas de várias partes do país, levando verdadeiras romarias a Pedro Leopoldo.
O armazém de José Felizardo vai à falência e Chico entra como escrevente-datilógrafo para o Ministério da Agricultura, em 1935, passando a trabalhar na Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo.
No início de 1944, a viúva e os filhos do escritor Humberto de Campos movem processo contra Chico e a Federação Espírita Brasileira com o objetivo de reclamar direitos autorais sobre as obras psicografadas pelo médium que traziam a assinatura do escritor. Em 12 de agosto de 1944, o juiz João Frederico Mourão Russel anunciou sentença na qual esclarece que só há direitos autorais sobre obras produzidas em vida.
Em 4 de janeiro de 1959, o médium muda para Uberaba, graças a uma transferência que conseguiu da Fazenda Modelo, onde trabalhava. Alegou problema de labirintite, que surgira recentemente e que exigia a permanência em cidade de clima mais ameno. Aos amigos, disse que Uberaba tinha maior proteção espiritual que sua cidade natal.
Em maio de 1965, viaja para os Estados Unidos com o objetivo de ajudar os espíritos lá residentes. Lá funda o Centro Espírita Cristão. Na ocasião, livros espíritas são traduzidos para o inglês e o médium é tema de matéria da revista Cosmic Star, publicada na Califórnia.
O médium estende sua viagem à Europa, onde ficou muito bem impressionado com o alcance do espiritismo no continente, especialmente na Inglaterra.
Só a partir de 1967 se torna habitual a psicografia de mensagens pessoais, que passam a ser recebidas todas as semanas, em sessão pública, em Uberaba. Até então eram raros os textos enviados por mortos aos seus parentes através do médium.
Em 1980, é lançada oficialmente a campanha para que Chico receba o Prêmio Nobel da Paz. Cerca de 10 milhões de pessoas assinam listas de adesão, mas o selecionado foi o escritório do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.
Em janeiro de 1982, foi encenada, pela primeira vez, a peça Além da Vida, escrita com base em textos psicografados por Chico Xavier, que se tornou um sucesso de público e permaneceu vários anos em cartaz.
Chico viveu seus últimos anos com uma pequena aposentadoria de escriturário nível 8 do Ministério da Agricultura, de apenas 150 dólares. Com o estado de saúde precário, já não podia mais andar, mas continuava a receber visitas, psicografar e até saía, às vezes, de cadeira de rodas, para fazer suas visitas a pessoas carentes.
Psicografou mais de 400 livros, que venderam mais de 20 milhões de exemplares.
Falecimento
Chico Xavier desencarnou aos 92 anos em conseqüência de parada cardíaca. Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico teria pedido a Deus para morrer num dia em que os brasileiros estivessem muito felizes, e que o país estivesse em festa, para que ninguém ficasse triste com o seu passamento.
O país festejava a conquista da Copa do Mundo de futebol de 2002 no dia do seu falecimento. Chico foi eleito o mineiro do século 20, seguido por Santos Dumont e Juscelino Kubitschek. Recentemente, iniciou-se a construção de um centro em sua homenagem.
Suas obras

Chico foi um dos nossos exemplos mais marcantes de caridade e amor que pudemos presenciar. Sua obra vai muito além dos livros que psicografava e das mensagens de fé e esperança que deixou através deles. Sua maior obra foi o seu exemplo vivo; o exemplo de um verdadeiro instrumento cristão, divulgando a mensagem de amor que Jesus nos trouxe através de seu olhar, gestos e palavras.

O que é Caridade
Emmanuel e Francisco Cândido Xavier
Caridade é, sobretudo, amizade.
Para o faminto - é o prato de sopa.
Para o triste – é a palavra consoladora.
Para o mau – é a paciência com que nos compete ajudá-lo.
Para o desesperado – é o auxílio do coração.
Para o ignorante – é o ensino despretensioso.
Para o ingrato – é o esquecimento.
Para o enfermo – é a visita pessoal.
Para o estudante – é o concurso do aprendizado.
Para a criança – é a proteção construtiva.
Para o velho – é o braço irmão.
Para o inimigo – é o silêncio.
Para o amigo – é o estímulo.
Para o transviado – é o entendimento.
Para o orgulhoso – é a humildade.
Para o colérico – é a calma.
Para o preguiçoso – é o trabalho sem imposição.
Para o impulsivo – é a serenidade.
Para o leviano – é a tolerância.
Para o maledicente – é o comentário bondoso.
Para o deserdado da Terra – é a expressão de carinho.
Caridade é amor, em manifestação in cessante e crescente. É o sol de mil faces, brilhando para todos, é o gênio de mil mãos, ajudando, indistintamente, na obra do bem, onde quer que se encontre, entre justos e injusto, bons e maus, felizes e infelizes, porque onde estiver o Espírito do Senhor, aí se derrama a claridade constante dela, a benefício do mundo inteiro.


 Exposição feita por Véra Regina Friederichs, em 24 de setembro de 2012, no Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec, em Ubatuba, São Francisco do Sul, SC.







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